sábado, 22 de novembro de 2008
Ícones
O motivo pelo qual andei ausente.
Entre outros, mas isso não vem ao caso. Só não convém ficar se comprometendo e deixar as pessoas pensando que só porque agora eu estou em Porto Alegre vou voltar a postar (não que isso faça lá alguma diferença na vida de qualquer vivente, mas anfã). Eu até pretendo, mas sei lá, é do meu feitio abandonar blogs. Tem coisas que simplesmente são mais fortes que nós.
Como leões ou halterofilistas.
Entre outros, mas isso não vem ao caso. Só não convém ficar se comprometendo e deixar as pessoas pensando que só porque agora eu estou em Porto Alegre vou voltar a postar (não que isso faça lá alguma diferença na vida de qualquer vivente, mas anfã). Eu até pretendo, mas sei lá, é do meu feitio abandonar blogs. Tem coisas que simplesmente são mais fortes que nós.
Como leões ou halterofilistas.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Questões urgentes
Uma vez me disseram - com bastante autoridade - que focas de circo não são focas de verdade. Aquilo me impressionou de tal maneira que eu esqueci de perguntar o que, então, seriam as focas de circo. Até hoje não sei. Acredito igualmente que podem ter me mentido ou que a foca de circo é outro animal altamente desmerecido.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Blog de planta
Como bem me alertaram amigos que fazem e/ou lêem o Terra, vocês não precisam mais deste blog. Continuarei aqui, ainda assim.
Hoje o dia está nublado, mas faz calor.
Hoje o dia está nublado, mas faz calor.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Planta, Violeta e Cactus
Já prometi a uma série de pessoas novas fotos das minhas plantas, até como prova de que vivem. Todas vivem, e um belo Cactus foi adicionado à trupe. Presente do Ressel em um amigo secreto comemorativo ao início da Primavera no qual os presentes deveriam ser flores. Mas, atento ao meu passado negro (já matei um cactus, provavelmente afogado, ainda que não tenha certeza) e no intuito de me dar uma segunda chance, Ressel me presenteou com um Horst. Não faço idéia de se isso significa alguma coisa em alguma língua, mas gosto do nome.
A questão é que se for pra fotografá-los, que saia uma foto decente, certo? Chega daqueles registros toscos. E aí para fazer uma foto decente eu não posso simplesmente fotografar onde as plantas estão porque o cenário prejudica. O Cactus, por exemplo, está aqui à minha frente, na diagonal do computador, mas vai ficar feio junto do meu copo com canetas, o gato com anéis e as xícaras usadas. Pensei em colocá-lo na escrivaninha da minha irmã, tendo a parede como fundo, mas um objeto verde na frente de uma parede verde vai ficar chapado. Poderia deixar o quadro de camurça no fundo, o que provavelmente ficaria bom, mas teria que trocar ele de lugar e para mover o quadro de camurça, eu teria que antes mover o copo com canetas, o gato com anéis e as xícaras usadas. E aí bate uma preguiiiiiça. E eu deixo pra depois. Então fica pra próxima.
A questão é que se for pra fotografá-los, que saia uma foto decente, certo? Chega daqueles registros toscos. E aí para fazer uma foto decente eu não posso simplesmente fotografar onde as plantas estão porque o cenário prejudica. O Cactus, por exemplo, está aqui à minha frente, na diagonal do computador, mas vai ficar feio junto do meu copo com canetas, o gato com anéis e as xícaras usadas. Pensei em colocá-lo na escrivaninha da minha irmã, tendo a parede como fundo, mas um objeto verde na frente de uma parede verde vai ficar chapado. Poderia deixar o quadro de camurça no fundo, o que provavelmente ficaria bom, mas teria que trocar ele de lugar e para mover o quadro de camurça, eu teria que antes mover o copo com canetas, o gato com anéis e as xícaras usadas. E aí bate uma preguiiiiiça. E eu deixo pra depois. Então fica pra próxima.
De minha ausência
Poucas coisas são mais legais que planejar uma viagem. Viajar é uma delas. E suponho que esbanjar dinheiro ao ponto de NÃO PRECISAR planejar coisa alguma e simplesmente IR deve ser outra, mas ainda não saberia dizer.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Reciclagem
Diogo me olha do alto de seu cigarro, sentado em cima da mesa de jantar, e balança as pernas, uma de cada vez, para frente e para trás. Ele inventa uma coceira na coxa direita para ter o que fazer com a mão e solta a fumaça pelo nariz. Parece um búfalo ao fazê-lo. Eu estou sentada no chão, à sua frente, e começo a fuçar entre os dedos do pé na esperança que dali surja algum assunto, como “veja, acho que peguei frieira na aula de natação”. Mas não há fungos, não há distração, apenas Diogo que me olha do alto de sua fumaça – o cigarro está amassado ao lado da coxa – sem conseguir decidir que reação me apresentar.
Começo de um texto que nunca finalizei. Na dúvida do que fazer com ele (terminá-lo parece tão irreal no momento), deixo aí para o caso de alguém querer continuar, mandar uma idéia, transformar num poema dadaísta, etc, etc, etc.
Puros de coração
Então que Daniel sempre sujará nosso nome, mas saio em defesa dos Dantas:
A matéria é da Bravo. O vídeo com o próprio Vinícius explicando é aqui.
Vinicius explica que os Dantas são os puros de coração, os bem-intencionados. Os Parás, os que buscam o sucesso o nome é inspirado nos que vêm do Norte do país para vencer nas capitais do Sudeste. Onésimos, os sarcásticos, os extremamente críticos que, por isso, esfriam os ambientes com sua presença. Os Kernianos seriam os estourados. E os Mozarlescos, os românticos, aqueles que se enternecem com o luar de Paquetá. "Eu, por exemplo, sou um Mozarlesco", diz Vinicius no YouTube.
A matéria é da Bravo. O vídeo com o próprio Vinícius explicando é aqui.
domingo, 14 de setembro de 2008
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Se podes ver, repara
Escrevi no blog do CineSemana o que achei de Ensaio Sobre a Cegueira. Como escrevi lá, ainda não consigo dizer tudo que pensei sobre o filme. Em parte porque realmente há muito para assimilar, em parte porque há questões que só poderia discutir com alguém que também tenha visto e, em parte, porque existem coisas sobre as quais conseguimos pensar, mas não conseguimos falar.
É um bom filme. Excelente, talvez. Ainda não me decidi. É engraçado: logo depois da sessão comentei que quem acompanhava o blog do Meirelles sobre a produção tinha um gostinho a mais ao assistir o filme por reconhecer nele decisões e conflitos que o diretor tinha apresentado no site. Mas agora começo a pensar que talvez seja o oposto. Quem lia o diário do Meirelles sabe da dificuldade que ele teve, por exemplo, em achar a medida da sujeira. Ele temia que as imagens ficassem repulsivas demais, mas também não queria fazer um filme limpinho para agradar Hollywood. Resultado que, até agora, eu também não sei dizer se achei o filme limpo demais ou na medida certa da exposição do imundo. Suspeito que se não tivesse acompanhado o processo de criação do diretor, eu nem estaria me perguntando isso agora.
É o lado ruim de ver o "como se faz" da arte. Não houvesse blog, Ensaio Sobre a Cegueira teria chegado a mim como uma obra definitiva, acabada e imutável. Mas não, chegou como o estágio de um processo de criação que, de uma maneira ou de outra, me incluiu, ainda que eu fosse apenas observadora distante. E isso mudou a maneira como olhei para o filme. Como se toda a montanha de particularidades técnicas ainda pudessem ser discutidas, quando, na verdade, agora só podem ser avaliadas.
Não li o livro, então não posso dizer se a adaptação foi fiel. Mas posso dizer que o filme dá vontade de ler a obra do Saramago por conter tantas informações visuais que a gente fica se perguntando "como será que isso estava escrito?". Confesso que a cena final me intrigou tanto que hoje li a última página do livro. Gostei mais do filme. São coisas incomparáveis, filmes e livros, é claro. Mas que o Meirelles fez um trabalho muito, muito competente, não há dúvidas.
É um bom filme. Excelente, talvez. Ainda não me decidi. É engraçado: logo depois da sessão comentei que quem acompanhava o blog do Meirelles sobre a produção tinha um gostinho a mais ao assistir o filme por reconhecer nele decisões e conflitos que o diretor tinha apresentado no site. Mas agora começo a pensar que talvez seja o oposto. Quem lia o diário do Meirelles sabe da dificuldade que ele teve, por exemplo, em achar a medida da sujeira. Ele temia que as imagens ficassem repulsivas demais, mas também não queria fazer um filme limpinho para agradar Hollywood. Resultado que, até agora, eu também não sei dizer se achei o filme limpo demais ou na medida certa da exposição do imundo. Suspeito que se não tivesse acompanhado o processo de criação do diretor, eu nem estaria me perguntando isso agora.
É o lado ruim de ver o "como se faz" da arte. Não houvesse blog, Ensaio Sobre a Cegueira teria chegado a mim como uma obra definitiva, acabada e imutável. Mas não, chegou como o estágio de um processo de criação que, de uma maneira ou de outra, me incluiu, ainda que eu fosse apenas observadora distante. E isso mudou a maneira como olhei para o filme. Como se toda a montanha de particularidades técnicas ainda pudessem ser discutidas, quando, na verdade, agora só podem ser avaliadas.
Não li o livro, então não posso dizer se a adaptação foi fiel. Mas posso dizer que o filme dá vontade de ler a obra do Saramago por conter tantas informações visuais que a gente fica se perguntando "como será que isso estava escrito?". Confesso que a cena final me intrigou tanto que hoje li a última página do livro. Gostei mais do filme. São coisas incomparáveis, filmes e livros, é claro. Mas que o Meirelles fez um trabalho muito, muito competente, não há dúvidas.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Faça o que eu digo, não faça o que eu faço
Li, nos últimos tempos, artigos, matérias e coisas sobre a dificuldade ou falta de disponibilidade das pessoas para lerem textos longos. Não guardei os links de tudo, o que é uma pena, mas aqui dá para ter a idéia geral da coisa e algumas dicas de como prender o leitor a um texto online, como usar negritos, técnica que eu vejo cada vez mais por aí.
Não sei como é para os outros, mas eu também não me atraio por textos longos na internet (a coisa vem se transportando para livros, mas ainda não), e sei que não é por desconforto nos olhos ou algo assim. Não me incomodo em ler muitos textos pequenos, mas basta aparecer um mais longo que eu já penso duas vezes. Se tem muitos parágrafos, eu leio as primeiras dez linhas e só continuo se elas tiverem me prendido. Se forem meia boca, leio o resto por cima. Se forem medíocres, fecho na hora. Já com textos pequenos sou bem mais condescendente. Podem ser mal escritos e irrelevantes, eu leio tudo.
É péssimo, obviamente. Acho que não preciso dizer porque ter um repertório de dezenas de leituras ruins é pior que um repertório de poucas leituras boas. Claro que venho me forçando a reverter o hábito, mas não posso negar que houve essa fase e não consigo entender de onde veio.
Meu primeiro chute seria culpar a natural tendência humana a preferir tudo do jeito que exija menos esforços. Mas não vejo exatamente como isso explicaria a situação. Ler dezenas de textos curtos é tão ou mais trabalhoso que ler um comprido. Também não posso culpar a falta de tempo, já que o fenômeno acontece mesmo quando tenho tempo livre à disposição.
Esses dias me ocorreu que pode estar ligado ao desejo de terminar ou se livrar das coisas rapidamente. Lembro de um carnaval mais que chuvoso em que ficamos, cinco amigas, vendo o tempo passar dentro de um apartamento no morro da Silveira. No meio daquele tédio muito particular a dias frios na praia, tínhamos que fazer as coisas práticas - como abastecer a geladeira - e arranjar coisas divertidas que não resultassem em pneumonia. As obrigações a gente queria resolver o mais rápido possível, o que era de se esperar, mas logo a gente também entrou na loucura de fazer de uma vez o que deveria ser a parte boa do carnaval e então lá estávamos dizendo coisas como "a gente passa na padaria aqui em baixo pra comprar o queijo, depois abastece ali no centro e vamos pro Siriú, aí já mata essa".
Qualquer um que já tenha passado perto do Siriú sabe que não é um lugar que tu queira ir para poder riscar de uma lista e partir pra próxima. Tudo bem que estava chovendo horrores, que fazia frio e não tínhamos meias, que ventava e não levamos casacos, mas ainda assim. Não sei qual das duas coisas aconteceu: se no fundo não queríamos ir mas nos sentimos na obrigação porque era o plano inicial; ou se no fundo sabíamos que quando a gente chegasse lá seria legal mesmo que na hora parecesse altamente improvável aproveitar um dia de merda numa praia vazia.
Fato é que acho que essa filosofia de "matar essa" colabora um pouco com a vitória dos textos curtos sobre os textos longos. Quanto antes eu matar esse texto aqui, eu posso passar ao seguinte e assim por diante deixando pra trás um grande acúmulo de tarefas cumpridas. Talvez isso confira uma falsa sensação de maior produtividade ao dia, não sei.
O que me preocupa nisso tudo nem é tanto a postura dos leitores. Cada um que leia ou deixe de ler o que bem entender. Me preocupa o efeito que isso tem sobre os escritores. Quem escreve quer ser lido, não importa se pelos amigos mais chegados ou se pela massa, ninguém escreve quinze parágrafos na esperança de que o leitor pare lá pelo terceiro. Então é de se esperar (na verdade, já está acontecendo) que escritores que publicam na internet moldem seus textos ao formato que tem mais chance de angariar público.
O problema é que existe um limite do quão conciso, de quão scannable um texto pode ser até perder de vez o estilo. A autoria de um texto está muitas vezes naquilo que não precisa ser necessariamente dito, pelas regras da objetividade, mas que dão o tom, criam emoção, humor ou melodia. É o que difere um relato gonzo-jornalístico de uma notícia do Correio do Povo, só pra dar um exemplo. Temo um pouco que os textos na internet se tornem cada vez mais duros, apenas aglomerados de informações organizadas em listas ou parágrafos de nunca mais que quatro linhas.
Não sei como é para os outros, mas eu também não me atraio por textos longos na internet (a coisa vem se transportando para livros, mas ainda não), e sei que não é por desconforto nos olhos ou algo assim. Não me incomodo em ler muitos textos pequenos, mas basta aparecer um mais longo que eu já penso duas vezes. Se tem muitos parágrafos, eu leio as primeiras dez linhas e só continuo se elas tiverem me prendido. Se forem meia boca, leio o resto por cima. Se forem medíocres, fecho na hora. Já com textos pequenos sou bem mais condescendente. Podem ser mal escritos e irrelevantes, eu leio tudo.
É péssimo, obviamente. Acho que não preciso dizer porque ter um repertório de dezenas de leituras ruins é pior que um repertório de poucas leituras boas. Claro que venho me forçando a reverter o hábito, mas não posso negar que houve essa fase e não consigo entender de onde veio.
Meu primeiro chute seria culpar a natural tendência humana a preferir tudo do jeito que exija menos esforços. Mas não vejo exatamente como isso explicaria a situação. Ler dezenas de textos curtos é tão ou mais trabalhoso que ler um comprido. Também não posso culpar a falta de tempo, já que o fenômeno acontece mesmo quando tenho tempo livre à disposição.
Esses dias me ocorreu que pode estar ligado ao desejo de terminar ou se livrar das coisas rapidamente. Lembro de um carnaval mais que chuvoso em que ficamos, cinco amigas, vendo o tempo passar dentro de um apartamento no morro da Silveira. No meio daquele tédio muito particular a dias frios na praia, tínhamos que fazer as coisas práticas - como abastecer a geladeira - e arranjar coisas divertidas que não resultassem em pneumonia. As obrigações a gente queria resolver o mais rápido possível, o que era de se esperar, mas logo a gente também entrou na loucura de fazer de uma vez o que deveria ser a parte boa do carnaval e então lá estávamos dizendo coisas como "a gente passa na padaria aqui em baixo pra comprar o queijo, depois abastece ali no centro e vamos pro Siriú, aí já mata essa".
Qualquer um que já tenha passado perto do Siriú sabe que não é um lugar que tu queira ir para poder riscar de uma lista e partir pra próxima. Tudo bem que estava chovendo horrores, que fazia frio e não tínhamos meias, que ventava e não levamos casacos, mas ainda assim. Não sei qual das duas coisas aconteceu: se no fundo não queríamos ir mas nos sentimos na obrigação porque era o plano inicial; ou se no fundo sabíamos que quando a gente chegasse lá seria legal mesmo que na hora parecesse altamente improvável aproveitar um dia de merda numa praia vazia.
Fato é que acho que essa filosofia de "matar essa" colabora um pouco com a vitória dos textos curtos sobre os textos longos. Quanto antes eu matar esse texto aqui, eu posso passar ao seguinte e assim por diante deixando pra trás um grande acúmulo de tarefas cumpridas. Talvez isso confira uma falsa sensação de maior produtividade ao dia, não sei.
O que me preocupa nisso tudo nem é tanto a postura dos leitores. Cada um que leia ou deixe de ler o que bem entender. Me preocupa o efeito que isso tem sobre os escritores. Quem escreve quer ser lido, não importa se pelos amigos mais chegados ou se pela massa, ninguém escreve quinze parágrafos na esperança de que o leitor pare lá pelo terceiro. Então é de se esperar (na verdade, já está acontecendo) que escritores que publicam na internet moldem seus textos ao formato que tem mais chance de angariar público.
O problema é que existe um limite do quão conciso, de quão scannable um texto pode ser até perder de vez o estilo. A autoria de um texto está muitas vezes naquilo que não precisa ser necessariamente dito, pelas regras da objetividade, mas que dão o tom, criam emoção, humor ou melodia. É o que difere um relato gonzo-jornalístico de uma notícia do Correio do Povo, só pra dar um exemplo. Temo um pouco que os textos na internet se tornem cada vez mais duros, apenas aglomerados de informações organizadas em listas ou parágrafos de nunca mais que quatro linhas.
Não me venha com antidepressivos
O autor é um pouco prolixo demais, e o que ele está dizendo não é mais novidade: muita gente já falou sobre essa mania de achar que qualquer tristeza deve ser curada, colocando no mesmo nível aquele dia baixo astral em que seu canário morre e uma depressão clínica grave. Mas gostei deste trecho:
A íntegra está aqui, em todo caso.
I further am concerned that to desire only happiness in a world undoubtedly tragic is to become inauthentic, to settle for unrealistic abstractions that ignore concrete situations. I am finally fearful of our society's efforts to expunge melancholia.
A íntegra está aqui, em todo caso.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Hard Sun
Voltando brevemente ao Na Natureza Selvagem, esqueci de comentar a trilha do Eddie Vedder, disco que tenho ouvido, sei lá, uma vez por dia. Deixo aqui a minha preferida, mas recomendo todas, sem exceção.
É tudo verdade
Igor Kenk roubou 2865 bicicletas em Toronto. Igor Kenk dava abrigo a moradores de rua e pacientes recém saídos de uma clínica de saúde mental. Além de abrigo, ele dava a eles trabalho. Alguns trabalhos consistiam em roubar bicicletas. Igor Kenk era dono, obviamente, de uma oficina de bicicletas. Igor foi preso em flagrante quando roubava mais uma bicicleta na rua, e com ele foram encontrados cocaína, crack, uns sete quilos de maconha e uma estátua de bronze de um centauro lutando contra uma cobra. Igor é casado com uma pianista de origem asiática. Igor tem um passaporte da Eslovênia e alega ser um ex-agente da KGB. Depois de sua prisão, 15 mil pessoas que tiveram suas bicicletas roubadas foram à oficina de Igor em busca da magrela perdida. Menos de 500 encontraram. Até agora, ninguém sabe o que ele pretendia fazer com milhares de bicicletas. Como diria Jorge Ben (Jor), deu no New York Times.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Selvagem é a vida
Já faz algum tempo que vi Na Natueza Selvagem, a história do guri que largou família, dinheiro, namorada e foi para o Alasca. Sobre o filme em si, até poderia fazer algumas críticas. O ator é bom, mas não é extraordinário, tem momentos em que o personagem só convence porque a gente já sabe que a história é real e a fotografia também não é espetacular. Mas só digo tudo isso para concluir que não importa, Na Natureza Selvagem é o único filme que eu baixei, assisti e não apaguei. Isso é muito, vindo de alguém que nunca viu nem um curta-metragem duas vezes.
Voltei a pensar nele porque eu tinha recomendado à Suzana e ela finalmente viu e começamos a debater. Como de praxe, eu não disse quase nada do que eu queria ter dito devido a certa desorganização interna de pensamentos. Tenho certeza que quando me pegam de surpresa eu fico parecendo umas três vezes menos inteligente do que sou porque quero dizer tudo ao mesmo tempo, não consigo afunilar e acabo dizendo qualquer bobagem. Enfim, deve acontecer com todo mundo. Desabafos à parte, o que eu teria dito se conversas fossem marcadas com aviso prévio é que o que há de admirável na vida do tal Chris é que ele fez uma escolha.
Não que eu admire a escolha dele. Eu não iria pro Alasca. Faz frio e é muito, hmm, branco. Se eu fosse largar tudo (tudo o quê? vocês poderiam perguntar e fico feliz que a escrita seja uma atividade solitária e de via única), eu iria morar em uma praia tropical com frutos caindo das árvores, peixes saltando do mar e grandes folhas de bananeira que servissem de cama, telhado e cobertor. Mas também isso é detalhe, provavelmente quer dizer apenas que enquanto Chris estava em uma saga quase contra a natureza, de conquista e dominação, eu estaria muito mais a fim de me integrar.
O importante é que, independente do que foi, ele escolheu. Parece meio clichê de discurso-de-enterro esse papo de "ele escolheu", quase Frank Sinatra que did it his way e tal, mas como todo clichê, a gente vê tanto por aí que chega uma hora em que passa por cima e não vê mais. Eu só me dei conta do peso que tem alguém tomar decisões quando me dei conta do contrário, quando vi que são extremos opostos as pessoas que fazem escolhas e as pessoas que justificam a vida dizendo que as coisas foram acontecendo.
Você um dia tem vinte anos, arranja um emprego que paga o aluguel, passa os feriados na praia, um dia pensa em largar tudo e estudar fotografia em Barcelona, mas aparece uma promoção que paga um aluguel de um apartamento melhor, encontra alguém que poderia amar, fica sem tempo para nada, as coisas vão acontecendo e, aos 40, você é o sujeito que mora em uma casa de dois andares de um bairro residencial de classe média, tem filhos no colégio e nunca foi à Espanha. Ou nunca trabalhou em um Cruzeiro. Ou nunca arranjou tempo para estudar para o concurso público que pagaria o bastante para que você desenvolvesse a habilidade de separar com altos muros a vida profissional da pessoal. Não importa. Realmente não importa o que era que você queria fazer, importa se fez.
Eu acho um bocado tristes as pessoas que vão acontecendo. Não no sentido de que eu as julgue por isso, mas no sentido de que elas aparentam tristes. Nas paradas de ônibus, nas filas de supermercado, atrás dos vidros dos carros, é fácil identificá-las. Elas têm qualquer olhar embaçado, qualquer gesto desmedido que denuncia que estão há tempo demais vendo o mundo de fora. Até acho necessário deixar um pouco as coisas acontecerem sozinhas, tanto porque às vezes é preciso sair de cena e respirar fundo quanto porque, caso contrário, não sobraria espaço para a vida nos surpreender. Mas nesse jogo entre o deixar rolar e o tomar as rédeas da vida deve ter um ponto de equilíbrio e acho que pulo do gato é justamente encontrá-lo.
E este, o sétimo parágrafo, é o momento em que eu digo que ou escrevendo eu também pareço três vezes menos inteligente ou eu tenho neurônios bem mais ordinários do que eu supunha porque juro que todas essas idéias pareciam bem mais brilhantes na minha cabeça. Mas serviu para provar que provavelmente eu nunca vou parar de me surpreender com a quantidade de voltas que a gente precisa dar até chegar às conclusões óbvias. Na vida, é preciso fazer escolhas. Descobri a América, não é, não?
Voltei a pensar nele porque eu tinha recomendado à Suzana e ela finalmente viu e começamos a debater. Como de praxe, eu não disse quase nada do que eu queria ter dito devido a certa desorganização interna de pensamentos. Tenho certeza que quando me pegam de surpresa eu fico parecendo umas três vezes menos inteligente do que sou porque quero dizer tudo ao mesmo tempo, não consigo afunilar e acabo dizendo qualquer bobagem. Enfim, deve acontecer com todo mundo. Desabafos à parte, o que eu teria dito se conversas fossem marcadas com aviso prévio é que o que há de admirável na vida do tal Chris é que ele fez uma escolha.
Não que eu admire a escolha dele. Eu não iria pro Alasca. Faz frio e é muito, hmm, branco. Se eu fosse largar tudo (tudo o quê? vocês poderiam perguntar e fico feliz que a escrita seja uma atividade solitária e de via única), eu iria morar em uma praia tropical com frutos caindo das árvores, peixes saltando do mar e grandes folhas de bananeira que servissem de cama, telhado e cobertor. Mas também isso é detalhe, provavelmente quer dizer apenas que enquanto Chris estava em uma saga quase contra a natureza, de conquista e dominação, eu estaria muito mais a fim de me integrar.
O importante é que, independente do que foi, ele escolheu. Parece meio clichê de discurso-de-enterro esse papo de "ele escolheu", quase Frank Sinatra que did it his way e tal, mas como todo clichê, a gente vê tanto por aí que chega uma hora em que passa por cima e não vê mais. Eu só me dei conta do peso que tem alguém tomar decisões quando me dei conta do contrário, quando vi que são extremos opostos as pessoas que fazem escolhas e as pessoas que justificam a vida dizendo que as coisas foram acontecendo.
Você um dia tem vinte anos, arranja um emprego que paga o aluguel, passa os feriados na praia, um dia pensa em largar tudo e estudar fotografia em Barcelona, mas aparece uma promoção que paga um aluguel de um apartamento melhor, encontra alguém que poderia amar, fica sem tempo para nada, as coisas vão acontecendo e, aos 40, você é o sujeito que mora em uma casa de dois andares de um bairro residencial de classe média, tem filhos no colégio e nunca foi à Espanha. Ou nunca trabalhou em um Cruzeiro. Ou nunca arranjou tempo para estudar para o concurso público que pagaria o bastante para que você desenvolvesse a habilidade de separar com altos muros a vida profissional da pessoal. Não importa. Realmente não importa o que era que você queria fazer, importa se fez.
Eu acho um bocado tristes as pessoas que vão acontecendo. Não no sentido de que eu as julgue por isso, mas no sentido de que elas aparentam tristes. Nas paradas de ônibus, nas filas de supermercado, atrás dos vidros dos carros, é fácil identificá-las. Elas têm qualquer olhar embaçado, qualquer gesto desmedido que denuncia que estão há tempo demais vendo o mundo de fora. Até acho necessário deixar um pouco as coisas acontecerem sozinhas, tanto porque às vezes é preciso sair de cena e respirar fundo quanto porque, caso contrário, não sobraria espaço para a vida nos surpreender. Mas nesse jogo entre o deixar rolar e o tomar as rédeas da vida deve ter um ponto de equilíbrio e acho que pulo do gato é justamente encontrá-lo.
E este, o sétimo parágrafo, é o momento em que eu digo que ou escrevendo eu também pareço três vezes menos inteligente ou eu tenho neurônios bem mais ordinários do que eu supunha porque juro que todas essas idéias pareciam bem mais brilhantes na minha cabeça. Mas serviu para provar que provavelmente eu nunca vou parar de me surpreender com a quantidade de voltas que a gente precisa dar até chegar às conclusões óbvias. Na vida, é preciso fazer escolhas. Descobri a América, não é, não?
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Metas? Não trabalhamos
Há pouco me dei conta que todas minhas resoluções de ano novo falharam miseravelmente. Na verdade, duas falharam. Tem outra que não lembro qual era, o que não sei se significa que eu cumpri e risquei do cérebro ou se nem cheguei a cogitar colocá-la em prática. Seja como for, dois fracassos e uma incógnita não me parece um aproveitamento razoável para quem tinha apenas três resoluções. Ainda não decidi se em 2009 serei mais persistente ou abandonarei de vez a tradição.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Shocking News
Agora que não estou mais no festival trabalhando desde o momento que botava o pé pra fora da cama até voltar destruída pro hotel, posso completar os recados gramadenses. Numa entrevista relâmpago que fiz com o Paulo Betti ele disse que era defensor do portunhol selvagem. Gostei da expressão, fiz uma notinha e colocamos no Diário do Festival. De volta a Porto Alegre, descubro que o portunhol selvagem existe de verdade (se tivermos como sentido de "existência" o fato de que o termo foi cunhado, conceituado e apresentado em manifesto).
Então, eis aqui, o portunhol selvagem. Ontem, o Globo fez uma matéria sobre. Já a Folha cantou a pedra no fim de 2007. Mas a coisa toda parece que começou um pouco antes, quando Douglas Diegues, Joca Reiners Terrón e Xico Sá apresentaram o portunhol na Festa Literária de Porto de Galinhas. Eu gostei da idéia.
Os tais orangotangos, vocês poderão conhecer em breve nos cinemas. O poeta de Gramado é o sujeito que, ano passado, invadiu o palco no meio da cerimônia de entrega dos Kikitos. A história de honrar o juramento foi porque demos ouvidos a ele, que estava protestando com um megafone na frente da Calçada da Fama, projeto criado por ele e que a prefeitura colocou em prática sem creditar e transformando a coisa numa espécie de altar de vaidades políticas. Foi curioso e, por pouco, eu e a Juliana, que estava do meu lado fazendo as fotos, não dissemos que nosso juramento tinha apenas uma semana de vida. Mas no quesito “caimento de fichas”, acho que a noção de que sou jornalista merrrmo veio de olhar para o crachá escrito Imprensa e me dar conta que, pela primeira vez, não estava no pescoço de uma estagiária, mesmo que meu nome estivesse errado e, por alguns dias, eu tenha me chamado Julia Dantos.
Então, eis aqui, o portunhol selvagem. Ontem, o Globo fez uma matéria sobre. Já a Folha cantou a pedra no fim de 2007. Mas a coisa toda parece que começou um pouco antes, quando Douglas Diegues, Joca Reiners Terrón e Xico Sá apresentaram o portunhol na Festa Literária de Porto de Galinhas. Eu gostei da idéia.
Os tais orangotangos, vocês poderão conhecer em breve nos cinemas. O poeta de Gramado é o sujeito que, ano passado, invadiu o palco no meio da cerimônia de entrega dos Kikitos. A história de honrar o juramento foi porque demos ouvidos a ele, que estava protestando com um megafone na frente da Calçada da Fama, projeto criado por ele e que a prefeitura colocou em prática sem creditar e transformando a coisa numa espécie de altar de vaidades políticas. Foi curioso e, por pouco, eu e a Juliana, que estava do meu lado fazendo as fotos, não dissemos que nosso juramento tinha apenas uma semana de vida. Mas no quesito “caimento de fichas”, acho que a noção de que sou jornalista merrrmo veio de olhar para o crachá escrito Imprensa e me dar conta que, pela primeira vez, não estava no pescoço de uma estagiária, mesmo que meu nome estivesse errado e, por alguns dias, eu tenha me chamado Julia Dantos.
domingo, 17 de agosto de 2008
Do Festival de Cinema de Gramado - parte 2
O poeta de Gramado diz que estou honrando meu juramento de jornalismo.
O orangotango agora namora uma orangotanga.
Paulo Betti está fazendo escola.
Nome Próprio ganhou prêmio de melhor filme e Leandra Leal de atriz.
Amanhã volto pra casa.
O orangotango agora namora uma orangotanga.
Paulo Betti está fazendo escola.
Nome Próprio ganhou prêmio de melhor filme e Leandra Leal de atriz.
Amanhã volto pra casa.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Do Festival de Cinema de Gramado
Resolvi me juntar à causa de Paulo Betti em prol do portunhol selvagem.
Publiquei que Julio Bressane é um recalcado. Ele é.
Bati um papo amigável com um orangotango.
O sujeito que nos traz uma térmica de café todo dia às 19h é uma das minhas pessoas preferidas no mundo.
Não vi nem meio filme.
Publiquei que Julio Bressane é um recalcado. Ele é.
Bati um papo amigável com um orangotango.
O sujeito que nos traz uma térmica de café todo dia às 19h é uma das minhas pessoas preferidas no mundo.
Não vi nem meio filme.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Satisfações
Não que eu não tenha o hábito de abandonar blogs com a mesma sem-cerimônia que os homens de mau caráter abandonam suas vidas após comprar cigarros, mas não é o caso. Em parte, essa coisa de se formar deu um certo trabalho e exigiu uma parcela considerável do meu tempo livre em atividades mui lúdicas como buscar champagne no lado escuro do aeroporto (onde, eu juro e tenho testemunhas, lê-se nas placas de trânsito: Dê preferência aos aviões); visitar confeitarias e comprar sapatos.
Em parte, também, houve qualquer coisa inexplicável que andou minando minha vontade de vir aqui dizer alguma coisa. E não foi falta de assunto. Questões da maior relevância me intrigaram por demais ultimamente. Só para exemplificar, cito duas.
Parece que querem juntar Daniel e Leonardo para fazerem shows juntos. Eu me pergunto: caso eles aceitem, quem vai ser a segunda voz? E não me pergunto apenas porque ambos estão acostumados a receberem todos os holofotes, mas porque, dado o histórico de ambos, eles têm motivos de sobra para acreditar que ser segunda voz de dupla sertaneja pode ser - usemos um eufemismo - prejudicial à saúde.
Minha irmã voltou de Buenos Aires com uma cuia. Na primeira tentativa de uso, a cuia rachou. Minha irmã fez chimarrão em uma caneca. A pergunta que infinitamente me atormentou é como eu nunca pensei nisso antes? Claro, pode muito bem ter sido porque eu sempre tive uma cuia à mão quando precisei, mas fiquei com a nítida impressão de que eu não pensaria em solução tão simples. Se bem me conheço, eu ia tentar colar a cuia com superbonder, porque eu sou o tipo de pessoa que acha que pode consertar tudo com superbonder, da mesma maneira que meu avô era capaz de construir uma casa com durepox e meu pai não teria problemas em passar uns dias perdido na selva desde que tivesse um rolo de fita isolante.
Mas, substâncias colantes à parte, esse improviso como o chimarrão-na-caneca é o tipo de raciocínio que eu admiro. As soluções mais simples são sempre as melhores. Lembro daquele caso em que golfinhos de um parque chinês engoliram pedaços de plástico. Primeiro tentaram uma cirurgia nos animais, que não deu resultado. E então alguém teve a brilhante idéia de chamar o homem mais alto do mundo para colocar seu braço mais longo do mundo na garganta dos golfinhos e puxar os fragmentos plásticos. Simples e eficiente e, se tivesse sido pensada antes, poupava os bichos de ficarem com uma cicatriz na barriga.
Em parte, também, houve qualquer coisa inexplicável que andou minando minha vontade de vir aqui dizer alguma coisa. E não foi falta de assunto. Questões da maior relevância me intrigaram por demais ultimamente. Só para exemplificar, cito duas.
Parece que querem juntar Daniel e Leonardo para fazerem shows juntos. Eu me pergunto: caso eles aceitem, quem vai ser a segunda voz? E não me pergunto apenas porque ambos estão acostumados a receberem todos os holofotes, mas porque, dado o histórico de ambos, eles têm motivos de sobra para acreditar que ser segunda voz de dupla sertaneja pode ser - usemos um eufemismo - prejudicial à saúde.
Minha irmã voltou de Buenos Aires com uma cuia. Na primeira tentativa de uso, a cuia rachou. Minha irmã fez chimarrão em uma caneca. A pergunta que infinitamente me atormentou é como eu nunca pensei nisso antes? Claro, pode muito bem ter sido porque eu sempre tive uma cuia à mão quando precisei, mas fiquei com a nítida impressão de que eu não pensaria em solução tão simples. Se bem me conheço, eu ia tentar colar a cuia com superbonder, porque eu sou o tipo de pessoa que acha que pode consertar tudo com superbonder, da mesma maneira que meu avô era capaz de construir uma casa com durepox e meu pai não teria problemas em passar uns dias perdido na selva desde que tivesse um rolo de fita isolante.
Mas, substâncias colantes à parte, esse improviso como o chimarrão-na-caneca é o tipo de raciocínio que eu admiro. As soluções mais simples são sempre as melhores. Lembro daquele caso em que golfinhos de um parque chinês engoliram pedaços de plástico. Primeiro tentaram uma cirurgia nos animais, que não deu resultado. E então alguém teve a brilhante idéia de chamar o homem mais alto do mundo para colocar seu braço mais longo do mundo na garganta dos golfinhos e puxar os fragmentos plásticos. Simples e eficiente e, se tivesse sido pensada antes, poupava os bichos de ficarem com uma cicatriz na barriga.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Eu me rendo
Costumo ficar no meio termo entre o grupo que está por dentro de todas as febres do YouTube, seriados e celebridades e o grupo que acredita que o Orkut é o último grito no mundo virtual ou acha que a Luana Piovani ainda namora o Rodrigo Santoro. Em outras palavras, eu sei que existe a dança do quadrado, mas nunca tive saco para assistir; conheço a premissa de Lost, mas não me interessa quem tá pegando quem (ou, no caso, quem viaja no tempo para quando); lembro que houve uma mulher com dificuldades para dizer sanduíche; me ressente um pouco que exista um sujeito no mundo sendo pago para, durante 15 minutos diários, falar na MTV o que a gente fala todo dia sem audiência, e é apenas até certo ponto que eu acho engraçado pedir para alguém, que obviamente não consegue, repetir que as árvores somos nós. Mas tem uma dessas febres idiotas que conquistou o meu afeto e fica melhor a cada dia. Twitter do fake Vítor Fasano? Acompanho.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Das linhas da tua mão
Não importa se o mundo estiver caindo, e mesmo que geralmente esteja, faz bem ouvir as canções de amor. Nei Lisboa e Ná Ozzetti cantaram muitas hoje à noite, e foi tão bonito, tão difícil de descrever com qualquer outra palavra que não "bonito", que se tornou impossível lá pela metade do show não sentir uma vontade do tamanho do peito de sair correndo do teatro e desenfreadamente se apaixonar por alguém, sufocar de amor, escrever as cartas ridículas de amor, morrer todas as mortes do amor, segurar com força uma mão e dizer vamos e, então, sem planos, ir.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Drexler ontem
Comentei lá no blog do CineSemana a apresentação do Drexler que vi ontem. Jorge (para os íntimos) entrou correndo no palco e, logo antes de sentar no seu banquinho, tropeçou no próprio violão. E a partir daí, os primeiros três segundos de show, ele tinha a platéia na mão. Há qualquer coisa de muito cativante em ver um homem de grande talento agir como um reles mortal. Não bastasse o tropeço, Drexler se enroscou nos fios da guitarra, se perdeu nas partituras, foi obrigado a catar os óculos do chão para enxergar uma letra do Vítor Ramil que não sabia de cor. São coisas que, por breves instantes, nos colocam no mesmo patamar que ele, e deve ser por isso que a platéia aplaudia a cada pequena demonstração de falha humana. Nós não sabemos compor, não sabemos cantar, não sabemos misturar eletrônico e milonga, mas também podemos ser bons em tropeçar e perder os óculos. É a única explicação que vejo para o fato de Jorge Drexler se tornar simpático em ser um desastrado, enquanto qualquer outra pessoa seria, apenas, um desengonçado.
Não que ele não mereça nosso afeto. Não bastasse a boa música, o sujeito é realmente simpático, bem humorado e tagarela. Eu levava fácil para uma mesa de bar ou um almoço em família. Se Vítor Ramil viesse de brinde, melhor ainda.
PS: Eu hesitei muito em comentar, porque me lembra a fatídica monografia, mas acho que está na hora de aceitar que Paisagens Sonoras para sempre farão parte do meu repertório de assuntos. Então que Jorge Drexler e sua excelente dupla de técnicos de som colecionam paisagens sonoras. Diz o uruguaio que eles têm o hábito de carregar um gravador no bolso. Muitas das músicas são pontuadas por barulhinhos diferentes (perceba a precisão na nomenclatura musical), e muitos deles saem dessas gravações feitas em cidades ao redor do mundo. Gostei da idéia, acho que vou adotar. Não sei ainda pra quê, já que estou a anos-luz de compor uma música, mas vai saber, um dia eu posso inventar um livro de sons, de repente.
Não que ele não mereça nosso afeto. Não bastasse a boa música, o sujeito é realmente simpático, bem humorado e tagarela. Eu levava fácil para uma mesa de bar ou um almoço em família. Se Vítor Ramil viesse de brinde, melhor ainda.
PS: Eu hesitei muito em comentar, porque me lembra a fatídica monografia, mas acho que está na hora de aceitar que Paisagens Sonoras para sempre farão parte do meu repertório de assuntos. Então que Jorge Drexler e sua excelente dupla de técnicos de som colecionam paisagens sonoras. Diz o uruguaio que eles têm o hábito de carregar um gravador no bolso. Muitas das músicas são pontuadas por barulhinhos diferentes (perceba a precisão na nomenclatura musical), e muitos deles saem dessas gravações feitas em cidades ao redor do mundo. Gostei da idéia, acho que vou adotar. Não sei ainda pra quê, já que estou a anos-luz de compor uma música, mas vai saber, um dia eu posso inventar um livro de sons, de repente.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Questões de pertencimento
Então que faltam uns 20 dias para a formatura e me dei conta hoje, depois de devolver os últimos livros na biblioteca da Fabico porque não me permitem mais renová-los, que em breve estarei incluída na maioria. Não serei mais universitária, não serei desempregada, não serei idosa, mas também não sou mais adolescente, não serei negra, indígena ou nipônica (bem, nunca fui nada disso, é verdade), não serei miserável mas também estou longe da classe alta e não serei estudante de coisa alguma. Fora a óbvia e maior preocupação de não ter mais descontos, vai ser estranho não ter um rótulo imediato. Antes era sempre estudante-jornalismo-ufrgs. Claro, ficará o jornalismo, mas uma profissão não é lá muito um círculo social como é uma faculdade. Não que a Fabico ainda fosse: há horas que não tenho mais aula com meus amigos e vejo-os apenas nos nossos tempos livres. Então, sei lá, estou misturando rótulos com ambientes com coisas que ainda não sei bem definir. No fim das contas, acho que só me dei conta que as coisas não vão mudar, mas ainda assim mudam. Na prática, o que acontece é que não precisarei mais descer a Felipe de Oliveira todas as manhãs. Nas entrelinhas, chegou a rolar uma vontade de ir ser imigrante latina na Europa para pertencer a um novo grupo facilmente identificável. Ou, como disse Juliana Maia, ser preso e integrar o seleto grupo das celas para diplomados.
domingo, 20 de julho de 2008
Ah, sim
O fato de que Conor Oberst está agora no Santander e eu não também não me deixa particularmente feliz.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Muito importante!
É hoje, no Avohai, a partir das 23h, a festa Fabico Acaba em Samba. Porque a Fabico acabou (conosco) para nós e tudo que nos resta fazer é dançar. O ingresso custa amigáveis oito reais. Haverá uma banda que não posso dizer qual é, mas atesto a qualidade. Haverá o DJ Daison na seqüência. Haverá uma série de formandos comemorandos. Haverá uma série de amigos de formandos que não podem negar presença. E haverá toda a alegria de viver. Chegarei tarde, mas lá estarei. Estejam também :)
quinta-feira, 17 de julho de 2008
E passou, nem parou
É verdade. Faz verão e eu me afastei. É que como cantaria Lenine, a rua me chama, eu tenho que ir pra rua. Não adianta. Eu sou dessas pessoas que aponta pro céu e diz, muito admirada, "olha a lua!" como se ela não cumprisse repetitivos ciclos de aparição. Eu mando mensagens para amigos dizendo "olhe a lua". Eu escolho a mesa do Rossi que tem o melhor ângulo para cima. Eu tomo banho mais rápido para sair de casa mais cedo e passar mais tempo debaixo do céu. Ando numa fase muito bobo alegre. Qualquer alecrim da Patagônia me faz sorrir, qualquer sambinha me faz batucar. Até com Kafka ando simpatizando.
O que me leva de volta ao assunto já moribundo do post anterior. Não gosto do texto do Kafka. Gosto das premissas, gosto da crítica, gosto até do nome. Mas não gosto de ler. Até estou dando outra chance com esse Artista da Fome já que DUVIDARAM que eu lesse. Mas sei lá. Acho chato. Eu ia teorizar sobre o assunto, mas ando numas muito mais de vivências que de reflexões, então deixo para outro dia. Com sua licença, vou ali aproveitar os últimos dias de calor.
O que me leva de volta ao assunto já moribundo do post anterior. Não gosto do texto do Kafka. Gosto das premissas, gosto da crítica, gosto até do nome. Mas não gosto de ler. Até estou dando outra chance com esse Artista da Fome já que DUVIDARAM que eu lesse. Mas sei lá. Acho chato. Eu ia teorizar sobre o assunto, mas ando numas muito mais de vivências que de reflexões, então deixo para outro dia. Com sua licença, vou ali aproveitar os últimos dias de calor.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Notas rápidas
Como minhas plantas têm demonstrado certa estabilidade nas suas existências, este blog agora contará, além dos já comuns posts off-topic, alguma coisa de ficção. Achei que devia avisar. Na real, já teve certa ficção até hoje, você só não sabia ;)
Kafka morreu no dia do meu aniversário. Muitos anos antes que houvesse algum meu aniversário, claro, mas achei curioso. Em todo caso, adoro aniversários. Não gosto de Kafka.
Voltei a ouvir Vanguart. Eu já devo ter recomendado para todas as pessoas que eu conheço, então não vou dizer para você entrar aqui e ouvir todas.
Também não vou dizer que essa música se relaciona com tudo que foi dito até agora. Mas tente responder o que te faz abrir os olhos de manhã.
As loucuras climáticas de Porto Alegre finalmente me afetaram. Só para matar a alegria de dois dias de sol.
Kafka morreu no dia do meu aniversário. Muitos anos antes que houvesse algum meu aniversário, claro, mas achei curioso. Em todo caso, adoro aniversários. Não gosto de Kafka.
Voltei a ouvir Vanguart. Eu já devo ter recomendado para todas as pessoas que eu conheço, então não vou dizer para você entrar aqui e ouvir todas.
Também não vou dizer que essa música se relaciona com tudo que foi dito até agora. Mas tente responder o que te faz abrir os olhos de manhã.
As loucuras climáticas de Porto Alegre finalmente me afetaram. Só para matar a alegria de dois dias de sol.
terça-feira, 8 de julho de 2008
Liberdade
Hoje encerramos a oficina de escrita criativa que ministramos (cinco colegas e eu) para internos da FASE, ou ex-FEBEM, durante todo o semestre. Poderia escrever alguns quilômetros sobre como foi bom, triste, alegre, recompensador e frustrante ao mesmo tempo, mas não vou. Deixo apenas o resultado prático final das aulas, que reúne alguns textos que produzimos em aula em um fanzine. São poucos, considerando a quantidade total que tínhamos. Se não me engano, todos ali foram escritos pelos guris da FASE. Deixamos os nossos de fora e entramos com algumas das colagens e os desenhos de palitinhos.
Espero que o resultado prático dê algum noção dos resultados impalpáveis. E espero que eles não se esmaguem pela dureza da vida, o que vale tanto para os nossos alunos quanto para nós, ministrantes.
Espero que o resultado prático dê algum noção dos resultados impalpáveis. E espero que eles não se esmaguem pela dureza da vida, o que vale tanto para os nossos alunos quanto para nós, ministrantes.
Em estado vegetativo
Imagem enviada pelo Macki, a.k.a meu mais novo companheiro de projetos-que-assumimos-no-amor-e-nunca-nos-darão-dinheiro. Claro que senti uma conotação acusatória na foto, mas relevei. Verdade que me deu a ótima idéia de colocar um cubo de gelo na terra, aí nunca mais derramaria água regando a Violeta, o que acontece com muito mais freqüência do que você poderia supor e eu poderia suportar porque, francamente, há um limite de vezes para a quantidade de repetições de um erro idiota que uma pessoa pode cometer e eu já extrapolei o limite aceitável para o mau cálculo de ângulo entre um copo d'água e um vaso de flor. A foto saiu daqui, de uma série chamada Melting Words. Boas imagens, muita choradeira por um coração partido.
Um Pé de Quê?
Acompanhar o crescimento (ou a lenta morte) de uma planta não é uma idéia original. Regina Casé faz coisa parecida, ainda que muito melhor, no programa Um Pé de Quê? no canal Futura, como me indicou o Menezes, o homem com 100% de aproveitamento de indicações, ainda que o Tetris 3D tenha seriamente ameaçado a realização da minha monografia.
Um Pé de Quê? é um programa sobre árvores. Só vi um episódio até agora, sobre a Mangabeira. É difícil explicar porque é tão bom de ver. Em parte é pela própria árvore (a mangabeira é incrivelmente frondosa e grande para algo que nasce na areia); em parte pela vontade incalculável de experimentar uma mangaba; em parte pelos personagens que a Regina encontra no meio do nada (apareceu uma menina de seis anos que deve ser simplesmente a pessoa mais querida do mundo); em parte pela contextualização histórica de tudo (houve um tempo que a seiva da mangabeira foi comprada às toneladas pelo Estados Unidos para fazer papel); em parte pelo quanto é singelo dedicar meia hora de programação a uma árvore e seus frutos.
Veja sábados às 16h30, domingos, às 19h ou segundas, às 16h. Ou, melhor ainda, entre aqui e faça o Futura te mandar um e-mail avisando.
Um Pé de Quê? é um programa sobre árvores. Só vi um episódio até agora, sobre a Mangabeira. É difícil explicar porque é tão bom de ver. Em parte é pela própria árvore (a mangabeira é incrivelmente frondosa e grande para algo que nasce na areia); em parte pela vontade incalculável de experimentar uma mangaba; em parte pelos personagens que a Regina encontra no meio do nada (apareceu uma menina de seis anos que deve ser simplesmente a pessoa mais querida do mundo); em parte pela contextualização histórica de tudo (houve um tempo que a seiva da mangabeira foi comprada às toneladas pelo Estados Unidos para fazer papel); em parte pelo quanto é singelo dedicar meia hora de programação a uma árvore e seus frutos.
Veja sábados às 16h30, domingos, às 19h ou segundas, às 16h. Ou, melhor ainda, entre aqui e faça o Futura te mandar um e-mail avisando.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Três coisas que eu teria fotografado se andasse com uma máquina
A maior lesma do mundo. Juro. Na calçada na rua Vítor Hugo, em frente a uma clínica de Ortopedia. A maior lesma do mundo.
Na Miguel Tostes, escrito em vermelho na calçada:
Me pergunto muito se está escrito no sentido de Jesus [dois pontos] [travessão] Breve Voltarei. Ou se é mais um aviso do tipo "Jesus, te prepara, tô chegando". Ou ainda, se não é nada religioso e o nome do filho de Deus é apenas uma exclamação "Jesus! Breve voltarei". Muitas dúvidas.
Três homens, ontem à noite, no telhado de um prédio do bairro Petrópolis, andando em círculos no meio da neblina.
Na Miguel Tostes, escrito em vermelho na calçada:
JESUS
BREVE
VOLTAREI
BREVE
VOLTAREI
Me pergunto muito se está escrito no sentido de Jesus [dois pontos] [travessão] Breve Voltarei. Ou se é mais um aviso do tipo "Jesus, te prepara, tô chegando". Ou ainda, se não é nada religioso e o nome do filho de Deus é apenas uma exclamação "Jesus! Breve voltarei". Muitas dúvidas.
Três homens, ontem à noite, no telhado de um prédio do bairro Petrópolis, andando em círculos no meio da neblina.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Who watches the watchmen?
Achei que eu devia explicar porque este blog anda fugindo do assunto. Acontece que a planta está meio que igual ao dia em que chegou aqui. E Violeta não vai muito bem e eu tento evitar o problema. Algumas flores murcharam, o que talvez seja até normal porque, até onde eu sei, plantas não costumam florescer o tempo todo (deus meu, quando eu achei que poderia cuidar de um ser vivo que não se comunica?). Ainda assim, eu fiquei arrasada, morta de preocupação e frustradíssima. Não se de onde eu tirei a idéia de que ter uma planta seria legal.
Mas hoje percebi que as flores que pegam sol estão melhores que aquelas que ficam no lado oposto à janela. Não que isso me deixe alegre, mas pelo menos eu começo a entender porque algumas flores estão morrendo e entender aquilo que nos entristece sempre nos faz sentir menos imbecis diante do que não podemos controlar. Esta história é uma bonita investigação sobre nosso desejo de compreender as coisas. É uma reportagem longuíssima (mas que vale cada palavra) sobre um programa de TV sensacionalista americano que criava armadilhas para pedófilos e filmava o momento da prisão deles.
Em resumo, quando um respeitado advogado e funcionário da Justiça é o alvo da vez, depois de manter conversas pornográficas por chat com um ator contratado pela produção para se passar por um garoto adolescente, a situação sai do controle. Via de regra, os atores deveriam atrair o pedófilo para uma casa alugada pelo programa, onde o apresentador confrontava o homem que logo depois era levado pela polícia. Mas este sujeito não foi ao encontro e então as equipes de filmagens foram à casa dele. Após uma desorganizada ação policial, toma-se a decisão de entrar na casa do criminoso. Ele então se suicida com um tiro na cabeça em frente à equipe da SWAT.
Investigações posteriores mostraram que o diálogo com o ator fora o primeiro desta espécie que o advogado participara. A promotoria concluiu que o caso era fraco e nem poderia ir a julgamento por inconsistências técnicas. Mas o que mais pesa na história são os parentes e amigos do tal advogado buscando explicações para o envolvimento dele com um adolescente. Nenhum deles pôde aceitar o fato de que foram próximos e foram queridos e queriam bem a um pedófilo. Nenhum deles pôde compreender como um criminoso podia ser tão gentil, competente no trabalho e boa companhia. Eu também não consigo imaginar os conflitos internos e demônios que um sujeito como esse enfrenta durante toda a vida. E não entendo a falta de conflitos internos que levam produtores de TV a submeter alguém - mesmo que um criminoso - a esse tipo de exposição sem critério.
Mas hoje percebi que as flores que pegam sol estão melhores que aquelas que ficam no lado oposto à janela. Não que isso me deixe alegre, mas pelo menos eu começo a entender porque algumas flores estão morrendo e entender aquilo que nos entristece sempre nos faz sentir menos imbecis diante do que não podemos controlar. Esta história é uma bonita investigação sobre nosso desejo de compreender as coisas. É uma reportagem longuíssima (mas que vale cada palavra) sobre um programa de TV sensacionalista americano que criava armadilhas para pedófilos e filmava o momento da prisão deles.
Em resumo, quando um respeitado advogado e funcionário da Justiça é o alvo da vez, depois de manter conversas pornográficas por chat com um ator contratado pela produção para se passar por um garoto adolescente, a situação sai do controle. Via de regra, os atores deveriam atrair o pedófilo para uma casa alugada pelo programa, onde o apresentador confrontava o homem que logo depois era levado pela polícia. Mas este sujeito não foi ao encontro e então as equipes de filmagens foram à casa dele. Após uma desorganizada ação policial, toma-se a decisão de entrar na casa do criminoso. Ele então se suicida com um tiro na cabeça em frente à equipe da SWAT.
Investigações posteriores mostraram que o diálogo com o ator fora o primeiro desta espécie que o advogado participara. A promotoria concluiu que o caso era fraco e nem poderia ir a julgamento por inconsistências técnicas. Mas o que mais pesa na história são os parentes e amigos do tal advogado buscando explicações para o envolvimento dele com um adolescente. Nenhum deles pôde aceitar o fato de que foram próximos e foram queridos e queriam bem a um pedófilo. Nenhum deles pôde compreender como um criminoso podia ser tão gentil, competente no trabalho e boa companhia. Eu também não consigo imaginar os conflitos internos e demônios que um sujeito como esse enfrenta durante toda a vida. E não entendo a falta de conflitos internos que levam produtores de TV a submeter alguém - mesmo que um criminoso - a esse tipo de exposição sem critério.
domingo, 29 de junho de 2008
Se eu ganhasse um real para cada vez...
Tem coisas que eu não passo uma semana sem ouvir. Geralmente são perguntas, tipo:
Como assim tu não gosta de refrigerante?
essa deve ser a frase que eu mais ouvi em toda a minha vida.
Tem outras bem freqüentes também:
Já te disseram que tu tem um olhar blasé?
Tu tem mesmo cara de jornalista.
Nossa, tu tem muitas sardinhas.
Já viu como teu olho fica verde no sol?
Como teu pé é pequeno!
O que me impressiona mais que o número de vezes que eu ouço essas coisas é o tom de voz que as pessoas usam para me dizer. É como se estivessem me contando uma novidade. Eu fico meio sem saber que reação apresentar que não decepcione, porque o portador da notícia sempre fica me fitando com aqueles olhinhos de quem espera reconhecimento pela descoberta e eu até me sinto tentada a dizer "Mentira! Eu tenho sardas?", mas a verdade é que eu convivo comigo há 23 anos ininterruptos e sei até quando aparece uma pinta nova.
Não que seja impossível alguém apontar algo de novo. Só fui saber que eu tinha um nariz grande, por exemplo, quando tinha uns 11 anos e minha avó me olhou e proferiu "Essa tem o nariz dos Viccari". Eu não fazia idéia do que isso queria dizer e fui até o espelho mais próximo. Taí, tenho o nariz dos Viccari.
Mas aí tem esse lance de "cara de jornalista". Sabe, eu não entendo o que isso quer dizer. Porque tem coisas que, ok, entregam uma pessoa. Se a figura tem cabelo mal cortado, barba e um all star velho, tem cara de quem faz sociais na Ufrgs. Se usa uma jaquetinha da adidas, um all star novo e um acessório descolado, tem cara de publicitário. Se veste uma camiseta do Che Guevara e está dentro do D43, tem cara de integrante da UNE. Mas não é como se eu andasse com um gravador pendurado no pescoço ou pedisse referências quando conheço alguém, o que até podia ser boa idéia.
- Oi, tudo bem, eu sou o João
- Oi, prazer, tem release e foto em alta?
Mas não é o caso, então eu realmente não entendo.
Tem também as frases que eu preciso dizer seguidamente. Além da óbvia "É, não gosto de refri", tem a evolução do diálogo que chega em "Não, eu tenho celulite mesmo assim" (é estranha a naturalidade com que as pessoas perguntam a respeito da pele da tua bunda quando tu diz que não toma refrigerante). Também passam a vida me pedindo fogo e, portanto, eu passo a vida respondendo "Não, eu não fumo". Bastaria dizer "não", eu sei, mas como bem apontou a Karine dia desses, eu sou o tipo de pessoa que dá explicações desnecessárias a estranhos. O que é irônico, considerando que eu detesto que me cobrem satisfações.
Lembrei de tudo isso porque não faz muito tempo anunciei para um amigo "Bah, tu é canhoto!", e ele me olhou com aquela cara de "Não brinca?". Além, é claro, de, apenas nesse fim de semana, uma pessoa me chamar de blasé, outra de estereótipo de jornalista, um amigo me oferecer um copo de coca-cola e eu avisar o taxista "Depois do orelhão, ali atrás daquele monte de plantas tem uma casa". Taxistas nunca vêem a minha casa.
Como assim tu não gosta de refrigerante?
essa deve ser a frase que eu mais ouvi em toda a minha vida.
Tem outras bem freqüentes também:
Já te disseram que tu tem um olhar blasé?
Tu tem mesmo cara de jornalista.
Nossa, tu tem muitas sardinhas.
Já viu como teu olho fica verde no sol?
Como teu pé é pequeno!
O que me impressiona mais que o número de vezes que eu ouço essas coisas é o tom de voz que as pessoas usam para me dizer. É como se estivessem me contando uma novidade. Eu fico meio sem saber que reação apresentar que não decepcione, porque o portador da notícia sempre fica me fitando com aqueles olhinhos de quem espera reconhecimento pela descoberta e eu até me sinto tentada a dizer "Mentira! Eu tenho sardas?", mas a verdade é que eu convivo comigo há 23 anos ininterruptos e sei até quando aparece uma pinta nova.
Não que seja impossível alguém apontar algo de novo. Só fui saber que eu tinha um nariz grande, por exemplo, quando tinha uns 11 anos e minha avó me olhou e proferiu "Essa tem o nariz dos Viccari". Eu não fazia idéia do que isso queria dizer e fui até o espelho mais próximo. Taí, tenho o nariz dos Viccari.
Mas aí tem esse lance de "cara de jornalista". Sabe, eu não entendo o que isso quer dizer. Porque tem coisas que, ok, entregam uma pessoa. Se a figura tem cabelo mal cortado, barba e um all star velho, tem cara de quem faz sociais na Ufrgs. Se usa uma jaquetinha da adidas, um all star novo e um acessório descolado, tem cara de publicitário. Se veste uma camiseta do Che Guevara e está dentro do D43, tem cara de integrante da UNE. Mas não é como se eu andasse com um gravador pendurado no pescoço ou pedisse referências quando conheço alguém, o que até podia ser boa idéia.
- Oi, tudo bem, eu sou o João
- Oi, prazer, tem release e foto em alta?
Mas não é o caso, então eu realmente não entendo.
Tem também as frases que eu preciso dizer seguidamente. Além da óbvia "É, não gosto de refri", tem a evolução do diálogo que chega em "Não, eu tenho celulite mesmo assim" (é estranha a naturalidade com que as pessoas perguntam a respeito da pele da tua bunda quando tu diz que não toma refrigerante). Também passam a vida me pedindo fogo e, portanto, eu passo a vida respondendo "Não, eu não fumo". Bastaria dizer "não", eu sei, mas como bem apontou a Karine dia desses, eu sou o tipo de pessoa que dá explicações desnecessárias a estranhos. O que é irônico, considerando que eu detesto que me cobrem satisfações.
Lembrei de tudo isso porque não faz muito tempo anunciei para um amigo "Bah, tu é canhoto!", e ele me olhou com aquela cara de "Não brinca?". Além, é claro, de, apenas nesse fim de semana, uma pessoa me chamar de blasé, outra de estereótipo de jornalista, um amigo me oferecer um copo de coca-cola e eu avisar o taxista "Depois do orelhão, ali atrás daquele monte de plantas tem uma casa". Taxistas nunca vêem a minha casa.
A pressa é a inimiga do teaser
Esqueçam a festa com Dylan e Hendrix. Quer dizer, ela vai acontecer ainda caso alguém tenha se interessado pela proposta mas não vai ter nada a ver com nós, formandos, porque subiu o preço e o promotor era um bolha e decidimos fazer nossa própria festa do jeito que a gente quiser.
Mas isso serve para mostrar como a mera possibilidade de publicação instantânea nos faz sentir na obrigação de ser instantâneos. Eu podia ter esperado para divulgar a festa, mas o blog tava aí dando sopa e vim colocar a informação no ar assim que a recebi. Como isso aqui não se propõe a ser um espaço jornalístico e não tem pacto de credibilidade com ninguém, não chego a sentir nenhum remorso em me desdizer.
Só que essa pressa em dar a informação me parece criar algumas coisas sem sentido de vez em quando. Esses dias li na Folha Online uma notícia sobre algo que não me lembro envolvendo alguém que tampouco lembro, mas o que eu lembro é que o texto terminava dizendo que a reportagem tentaria entrar em contato com a tal pessoa para maiores esclarecimentos. Aí eu me pergunto qual a vantagem de dar uma notícia pela metade ao invés de falar com o fulano e publicar depois? Porque não era nada bombástico, não era como o Feijó liberando as gravações com um crápula do alto escalão que tu transmite na hora mesmo que não se entenda muita coisa e depois espera pela transcrição. Era alguma coisa bem cotidiana, tanto que eu nem fui olhar depois o que a pessoa tinha a dizer a respeito porque realmente não fazia diferença na vida de ninguém. Acho que andamos afobados demais por coisas de menos.
Mas isso serve para mostrar como a mera possibilidade de publicação instantânea nos faz sentir na obrigação de ser instantâneos. Eu podia ter esperado para divulgar a festa, mas o blog tava aí dando sopa e vim colocar a informação no ar assim que a recebi. Como isso aqui não se propõe a ser um espaço jornalístico e não tem pacto de credibilidade com ninguém, não chego a sentir nenhum remorso em me desdizer.
Só que essa pressa em dar a informação me parece criar algumas coisas sem sentido de vez em quando. Esses dias li na Folha Online uma notícia sobre algo que não me lembro envolvendo alguém que tampouco lembro, mas o que eu lembro é que o texto terminava dizendo que a reportagem tentaria entrar em contato com a tal pessoa para maiores esclarecimentos. Aí eu me pergunto qual a vantagem de dar uma notícia pela metade ao invés de falar com o fulano e publicar depois? Porque não era nada bombástico, não era como o Feijó liberando as gravações com um crápula do alto escalão que tu transmite na hora mesmo que não se entenda muita coisa e depois espera pela transcrição. Era alguma coisa bem cotidiana, tanto que eu nem fui olhar depois o que a pessoa tinha a dizer a respeito porque realmente não fazia diferença na vida de ninguém. Acho que andamos afobados demais por coisas de menos.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
A gente cria as plantas pro mundo
Apesar de certo medo em me tornar a "menina da planta", fiquei muito feliz em receber esta tirinha de dois amigos. Fica registrado o meu apreço. Registre o seu apreço também visitando o blog do Rodrigo, que, quando dá na telha, publica seus etéreos poemas e o blog do Marcelo, um maluco na Alemanha que, quase todo dia, publica seus mais que divertidos relatos na terra das batatas. E com vocês, a vida como ela é:
Então,
não que os espirros tenham passado, mas lembrei de entrar na onda publicitária e deixar aqui um teaser.
O que eu posso dizer por enquanto é que dia 4 de julho, enquanto os norte-americanos comemoram o independence day, nós estaremos aqui comemorando o fim das amarras universitárias (e torcendo para que os extraterrestres explodam a Casa Branca, mas isso não vem ao caso).
A disputada celebração vai ser no Manara, com shows de bandas covers de Bob Dylan e Jimi Hendrix e festa na seqüência. Aí você me pergunta "Manara?", e eu digo "ora, ora, não me faça essa cara de quem nunca dançou um forró no domingo". E você continua "Mas Bob Dylan não é triste?" e eu respondo "vá ouvir Like a Rolling Stone. E Subterrenean Homesick Blues, essa é ótima. E Mozambique, dá vontade de ir correndo pro aeroporto". E então você, muito resistente, pergunta "Hendrix?" e olha, nessa eu não sei muito bem o que dizer a respeito, mas se o Jimi-cover for vestido à caráter já tá valendo, não é, não?
De todo modo, se apesar de toda evidência em contrário, você, homem de pouca fé, ainda acha que essa festa não vai ser o evento do ano, saiba que todos os formandos estarão lá e se nós já nos divertimos loucamente num sábado às 8 da manhã tirando fotos vestidos como pingüins, imagine o que faremos quando colocarem a dose dupla de cerveja na nossa mão.
O quê: o evento do ano
Atrações: Dylan, Hendrix, dose dupla até a 1h, formandos em roupas civis
Quando: 4 de julho
Onde: Manara, na Goethe
Quanto: 6 reais com o formando de sua preferência + 6 reais para os sanguessugas do Manara
Onde comprar: essa é a parte que fica para depois caracterizando tudo isso como um teaser. Ah, não é assim que funciona? Desculpe, os publicitários estão na sala ao lado.
O que eu posso dizer por enquanto é que dia 4 de julho, enquanto os norte-americanos comemoram o independence day, nós estaremos aqui comemorando o fim das amarras universitárias (e torcendo para que os extraterrestres explodam a Casa Branca, mas isso não vem ao caso).
A disputada celebração vai ser no Manara, com shows de bandas covers de Bob Dylan e Jimi Hendrix e festa na seqüência. Aí você me pergunta "Manara?", e eu digo "ora, ora, não me faça essa cara de quem nunca dançou um forró no domingo". E você continua "Mas Bob Dylan não é triste?" e eu respondo "vá ouvir Like a Rolling Stone. E Subterrenean Homesick Blues, essa é ótima. E Mozambique, dá vontade de ir correndo pro aeroporto". E então você, muito resistente, pergunta "Hendrix?" e olha, nessa eu não sei muito bem o que dizer a respeito, mas se o Jimi-cover for vestido à caráter já tá valendo, não é, não?
De todo modo, se apesar de toda evidência em contrário, você, homem de pouca fé, ainda acha que essa festa não vai ser o evento do ano, saiba que todos os formandos estarão lá e se nós já nos divertimos loucamente num sábado às 8 da manhã tirando fotos vestidos como pingüins, imagine o que faremos quando colocarem a dose dupla de cerveja na nossa mão.
O quê: o evento do ano
Atrações: Dylan, Hendrix, dose dupla até a 1h, formandos em roupas civis
Quando: 4 de julho
Onde: Manara, na Goethe
Quanto: 6 reais com o formando de sua preferência + 6 reais para os sanguessugas do Manara
Onde comprar: essa é a parte que fica para depois caracterizando tudo isso como um teaser. Ah, não é assim que funciona? Desculpe, os publicitários estão na sala ao lado.
terça-feira, 24 de junho de 2008
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Hey, peruanos, eu não roubei 300 pilas de vocês
Tudo começou em 2006 quando eu voltei ao Brasil e comecei a receber faturas de cartão de crédito que não faziam sentido algum. Vinha algo como "valor desta fatura: R$ 500,00" e, depois, "total a pagar: R$ 0,00". Ainda que o total fosse zero, a coisa me deixou meio cabreira e fui buscar explicações.
Precisou que umas cinco pessoas me atendessem até chegar a alguém que sabia o que era aquilo. Era apenas um demonstrativo, me disse a moça. Eu explicaria o que isso significa, mas tchê, é um negócio chato, complicado e demorado, então vocês não perdem nada em não saber. Importa que eu podia simplesmente ignorar as faturas. Mas aí a moça simpática aproveitou para dar uma olhada na fatura do mês seguinte, que eu ainda não tinha recebido, só pra ver se estava tudo certo.
Agora vou fazer um elogio à minha agência do BB e olha que ninguém me paga pra isso. A moça foi olhar o mês seguinte totalmente partindo da bondade do seu coração, porque não tinha motivo algum pra isso. Além dela, todos já tinham me tratado como se eu fosse uma cliente importante e não a pé rapada que eu de fato sou. Mas mais notável: falar com eles é como falar com seres humanos. De alguma maneira eles conseguiram não se tornar as máquinas que geralmente compõem as equipes de bancários, atendentes de call centers e assemelhados. Eles são o tipo de pessoa para quem você diz “já viu como aquela placa ali tem escrito ‘não corra na escada’, mas a imagem parece dizer ‘escorregue pelo corrimão’?” e a resposta é “sabe que eu já notei, fica engraçado, né” e a placa é, de fato, engraçada. Então fica o toque: agência Petrópolis, na Protásio Alves.
Mas voltando à fatura do mês seguinte: constava um saque que eu não tinha feito. Em Nazca, no Peru, fui sacar 500 soles e deu erro, mas o banco registrou igual e aí estavam me cobrando isso, que equivale a uns 340 reais. Então eu tinha acabado de gastar todo meu dinheiro, estava de volta ao Brasil com 17 centavos na conta e uma dívida de um saque que eu não tinha feito que ultrapassava o limite de 200 reais do cartão de crédito que eu não tinha. Ah, sim, porque ainda tem essa nuance bizarra na história: eu NUNCA tive um cartão de crédito.
Pois bem, sabe aquela calma que só o desespero dá? Como eu não tinha um puto mesmo, que me cobrassem o que quisessem, iam me tirar o quê? Mas eu pretendia manter a conta no banco, aí seria legal não ter uma dívida, ainda mais uma que não me pertencia. Como a moça simpática estava do meu lado - ela que tinha percebido que aquilo não podia estar certo - eu resolvi brigar com a corporação do cartão de crédito. Lá se foi uma contestação pra empresa (o setor de cartões do Banco do Brasil é separado do banco em si, então não podia a moça apagar aquilo direto). Deu um tempo e eu continuava recebendo as faturas. Lá foi outra contestação. Deu um tempo e supostamente a coisa se resolveu. As faturas continuaram vindo e eu simplesmente jogava fora, porque os contornos surreais continuam.
Ninguém do Banco do Brasil entende essas faturas. Ainda que elas, inegavelmente, existam, quando os funcionários do banco entram no sistema e buscam meu saldo no cartão de crédito ele está zerado (tem até 45 centavos sobrando, porque algum dia eu rateei e paguei mais do que devia e logo depois cancelei o cartão). Ou seja, em algum sistema eu tenho 45 centavos, mas em algum sistema eu devo quase 400 reais contando os juros. Ou seja, oi?
Aí fui semana passada atualizar meu cadastro e aproveitei pra retomar o conto do cartão de crédito. Fui atendida por um funcionário que não trabalhava lá na época do rolo dos soles, mas bastou ele chamar um seu superior que ele me reconheceu assim que ouviu as palavras "problema com saque no exterior". E aí foi quase festa, eles lembravam de mim, eu lembrava deles, tinha sido mesmo uma coisa sem explicação aquilo tudo e rimos muito do fato de que eu devia 300 reais. Em retrospectiva, eu entendo que eles riam, mas me pergunto qual a graça que há nisso para mim.
Eu só queria parar de receber as faturas porque, né, desperdício de papel. Então lá se foi uma mensagem explicando a coisa toda para o Resolve, um serviço qualquer interno do banco. Não sei porque eu vim contar tudo isso aqui. Acho que foi só para dizer que é a primeira vez que eu tenho um problema burocrático em Brasília. Deve ser a isso que chamam amadurecimento. Ou isso, ou as horas que eu gastei tamborilando os dedos numa mesa tentando resolver um problema que foi injustamente jogado no meu colo sendo que não muito tempo atrás eu podia jogar no colo dos outros os problemas que eu de fato criava.
Precisou que umas cinco pessoas me atendessem até chegar a alguém que sabia o que era aquilo. Era apenas um demonstrativo, me disse a moça. Eu explicaria o que isso significa, mas tchê, é um negócio chato, complicado e demorado, então vocês não perdem nada em não saber. Importa que eu podia simplesmente ignorar as faturas. Mas aí a moça simpática aproveitou para dar uma olhada na fatura do mês seguinte, que eu ainda não tinha recebido, só pra ver se estava tudo certo.
Agora vou fazer um elogio à minha agência do BB e olha que ninguém me paga pra isso. A moça foi olhar o mês seguinte totalmente partindo da bondade do seu coração, porque não tinha motivo algum pra isso. Além dela, todos já tinham me tratado como se eu fosse uma cliente importante e não a pé rapada que eu de fato sou. Mas mais notável: falar com eles é como falar com seres humanos. De alguma maneira eles conseguiram não se tornar as máquinas que geralmente compõem as equipes de bancários, atendentes de call centers e assemelhados. Eles são o tipo de pessoa para quem você diz “já viu como aquela placa ali tem escrito ‘não corra na escada’, mas a imagem parece dizer ‘escorregue pelo corrimão’?” e a resposta é “sabe que eu já notei, fica engraçado, né” e a placa é, de fato, engraçada. Então fica o toque: agência Petrópolis, na Protásio Alves.
Mas voltando à fatura do mês seguinte: constava um saque que eu não tinha feito. Em Nazca, no Peru, fui sacar 500 soles e deu erro, mas o banco registrou igual e aí estavam me cobrando isso, que equivale a uns 340 reais. Então eu tinha acabado de gastar todo meu dinheiro, estava de volta ao Brasil com 17 centavos na conta e uma dívida de um saque que eu não tinha feito que ultrapassava o limite de 200 reais do cartão de crédito que eu não tinha. Ah, sim, porque ainda tem essa nuance bizarra na história: eu NUNCA tive um cartão de crédito.
Pois bem, sabe aquela calma que só o desespero dá? Como eu não tinha um puto mesmo, que me cobrassem o que quisessem, iam me tirar o quê? Mas eu pretendia manter a conta no banco, aí seria legal não ter uma dívida, ainda mais uma que não me pertencia. Como a moça simpática estava do meu lado - ela que tinha percebido que aquilo não podia estar certo - eu resolvi brigar com a corporação do cartão de crédito. Lá se foi uma contestação pra empresa (o setor de cartões do Banco do Brasil é separado do banco em si, então não podia a moça apagar aquilo direto). Deu um tempo e eu continuava recebendo as faturas. Lá foi outra contestação. Deu um tempo e supostamente a coisa se resolveu. As faturas continuaram vindo e eu simplesmente jogava fora, porque os contornos surreais continuam.
Ninguém do Banco do Brasil entende essas faturas. Ainda que elas, inegavelmente, existam, quando os funcionários do banco entram no sistema e buscam meu saldo no cartão de crédito ele está zerado (tem até 45 centavos sobrando, porque algum dia eu rateei e paguei mais do que devia e logo depois cancelei o cartão). Ou seja, em algum sistema eu tenho 45 centavos, mas em algum sistema eu devo quase 400 reais contando os juros. Ou seja, oi?
Aí fui semana passada atualizar meu cadastro e aproveitei pra retomar o conto do cartão de crédito. Fui atendida por um funcionário que não trabalhava lá na época do rolo dos soles, mas bastou ele chamar um seu superior que ele me reconheceu assim que ouviu as palavras "problema com saque no exterior". E aí foi quase festa, eles lembravam de mim, eu lembrava deles, tinha sido mesmo uma coisa sem explicação aquilo tudo e rimos muito do fato de que eu devia 300 reais. Em retrospectiva, eu entendo que eles riam, mas me pergunto qual a graça que há nisso para mim.
Eu só queria parar de receber as faturas porque, né, desperdício de papel. Então lá se foi uma mensagem explicando a coisa toda para o Resolve, um serviço qualquer interno do banco. Não sei porque eu vim contar tudo isso aqui. Acho que foi só para dizer que é a primeira vez que eu tenho um problema burocrático em Brasília. Deve ser a isso que chamam amadurecimento. Ou isso, ou as horas que eu gastei tamborilando os dedos numa mesa tentando resolver um problema que foi injustamente jogado no meu colo sendo que não muito tempo atrás eu podia jogar no colo dos outros os problemas que eu de fato criava.
Desculpe, acho que deixei a cabeça na outra bolsa
Adoro bolsas com muitas divisões. Bolsas externas, bolsinhos internos, separação para celular, para documentos, é tudo tão bem pensado e útil que não me surpreenderia se houvesse profissionais especialmente qualificados para pensar onde deve ficar o bolso com zíper em relação ao bolso com botão. Mas a coisa toda perde um pouco do sentido quando você joga a carteira em qualquer lugar, enche a divisão mais acessível com recibos antigos de visa electron, perde a identidade no bolso escondido, deixa as chaves de casa no bolso do celular e o celular em casa. Sério, não sei por que eu simplesmente não uso uma sacola de super.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Sempre leia o manual
Depois que o Luís Felipe levantou a questão, eu realmente fiquei em absoluto espanto comigo mesma e fui consultar o oráculo a respeito das violetas. Aparentemente, elas são provenientes das montanhas de Tanger, na África do Norte. Pomposo, não? Quase marroquinas. Além disso:
Como isso tudo só pode ser piada (de onde essa gente espera que eu tire nitrogênio?) resolvi fazer meu próprio manual de jardinagem.
"As raízes da violeta são muito sensíveis, sendo importante que você não as ofenda nem faça piadas de mau gosto na sua frente. Recomenda-se ignorar o pH da terra, já que a única coisa da qual você conhece o pH são os sabonetes Dove e eles não devem ser bom adubo. A violeta necessita de vários elementos químicos. Atenha-se aos leves ou ela pode sofrer alucinações. A temperatura ambiente é aceitável até um mínimo de 18 graus, o que significa que Porto Alegre é uma cidade habitada totalmente por gênios da biologia que estão há décadas criando violetas que sobrevivem ao nosso inverno polar."
Então é isso aí. Água duas vezes por semana no verão, uma no inverno. E a internet é um saco e só serve para você perceber a quantidade de coisas que você não sabe.
As raízes da violeta são muito sensíveis, sendo importante que a terra usada no plantio seja uma mistura de boa qualidade. Recomenda-se um pH em torno de 5,5 até 6,5. A violeta necessita de vários elementos químicos. A parte básica da adubação são os macronutrientes: Nitrogênio, Fósforo e Potássio. A temperatura ambiente é aceitável até um mínimo de 18 graus centígrados.
Como isso tudo só pode ser piada (de onde essa gente espera que eu tire nitrogênio?) resolvi fazer meu próprio manual de jardinagem.
"As raízes da violeta são muito sensíveis, sendo importante que você não as ofenda nem faça piadas de mau gosto na sua frente. Recomenda-se ignorar o pH da terra, já que a única coisa da qual você conhece o pH são os sabonetes Dove e eles não devem ser bom adubo. A violeta necessita de vários elementos químicos. Atenha-se aos leves ou ela pode sofrer alucinações. A temperatura ambiente é aceitável até um mínimo de 18 graus, o que significa que Porto Alegre é uma cidade habitada totalmente por gênios da biologia que estão há décadas criando violetas que sobrevivem ao nosso inverno polar."
Então é isso aí. Água duas vezes por semana no verão, uma no inverno. E a internet é um saco e só serve para você perceber a quantidade de coisas que você não sabe.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
O problema com a memória seletiva
Hoje, Violeta amanheceu com algumas flores murchas. Eu fiz o que pude: me senti um fracasso, me repreendi mentalmente e fui tomar uma cerveja. Não, minto. Eu me senti um fracasso, me repreendi mentalmente, ajeitei ela mais ao sol e dei água. O que acontece é que por funções cerebrais que jamais entenderei eu esqueci o quanto de água deveria colocar na terra por dia. Tenho vontade de investigar a questão (do esquecimento, não da planta) com Ivan Izquierdo, mas ele deve estar ocupado dando alguma entrevista, já que é fonte para 10 entre 10 matérias sobre memória no País. Mas divago. Foi assim:
Lembro que eu estava na portaria da Fabico saindo da aula de Comunicação Alternativa e conversando com a Fafá. Ela disse que tinha lido o blog e que para cuidar de uma violeta se deveria dar uma quantidade tal de água dia sim, dia não. Lembro que eu estava ao lado da balcão, ela estava à minha esquerda. Lembro que a professora apareceu para largar a chave da sala. Lembro que ela queria saber onde tinha um Unibanco, lembro até da piada sem graça que eu larguei – pô, professora, depois de uma aula sobre internet tu pergunta para gente ao invés de ir nos site do Unibanco? E ela disse que não costumava pesquisar coisas na internet, o que, pensando agora, não faz muito sentido porque que espécie de pessoa não corre ao Google quando tem uma dúvida, mas, novamente, divago.
Lembro que tem um Unibanco na Venâncio Aires, lembro que a Fafá foi embora para o Dmae, lembro que eu liguei para minha mãe para saber se ela queria que eu comprasse comida antes de ir pra casa, mas nem precisava porque meu pai já estava no super. Lembro que almoçamos lasanha de quatro queijos, lembro até que as bordas queimaram e tivemos que comer só a parte do meio e minha mãe comeu pouco porque o antinflamatório que ela estava tomando causava enjôo. Enfim, eu poderia continuar com uma infinidade de fatos daquele dia, o ponto é que esqueci justamente a única informação relevante que eu deveria ter registrado.
Update: perguntei ao Google. Eis que o meu esquecimento é uma falha na memória declarativa, aquela que registra eventos pontuais (ao contrário da memória de procedimentos, que é a que nos permite lembrar como se dirige, por exemplo). Agora, essas falhas costumam acontecer quando as sinapses estão inibidas, o que, por sua vez, ocorre devido à estimulação excessiva, doenças degenerativas, isquemias ou traumatismos cranianos. Como eu não passei por nenhuma dessas coisas, penso que há algo de errado ou com a teoria do Sr. Ivan, ou com o meu cérebro. Temo um pouco pela resposta.
Lembro que eu estava na portaria da Fabico saindo da aula de Comunicação Alternativa e conversando com a Fafá. Ela disse que tinha lido o blog e que para cuidar de uma violeta se deveria dar uma quantidade tal de água dia sim, dia não. Lembro que eu estava ao lado da balcão, ela estava à minha esquerda. Lembro que a professora apareceu para largar a chave da sala. Lembro que ela queria saber onde tinha um Unibanco, lembro até da piada sem graça que eu larguei – pô, professora, depois de uma aula sobre internet tu pergunta para gente ao invés de ir nos site do Unibanco? E ela disse que não costumava pesquisar coisas na internet, o que, pensando agora, não faz muito sentido porque que espécie de pessoa não corre ao Google quando tem uma dúvida, mas, novamente, divago.
Lembro que tem um Unibanco na Venâncio Aires, lembro que a Fafá foi embora para o Dmae, lembro que eu liguei para minha mãe para saber se ela queria que eu comprasse comida antes de ir pra casa, mas nem precisava porque meu pai já estava no super. Lembro que almoçamos lasanha de quatro queijos, lembro até que as bordas queimaram e tivemos que comer só a parte do meio e minha mãe comeu pouco porque o antinflamatório que ela estava tomando causava enjôo. Enfim, eu poderia continuar com uma infinidade de fatos daquele dia, o ponto é que esqueci justamente a única informação relevante que eu deveria ter registrado.
Update: perguntei ao Google. Eis que o meu esquecimento é uma falha na memória declarativa, aquela que registra eventos pontuais (ao contrário da memória de procedimentos, que é a que nos permite lembrar como se dirige, por exemplo). Agora, essas falhas costumam acontecer quando as sinapses estão inibidas, o que, por sua vez, ocorre devido à estimulação excessiva, doenças degenerativas, isquemias ou traumatismos cranianos. Como eu não passei por nenhuma dessas coisas, penso que há algo de errado ou com a teoria do Sr. Ivan, ou com o meu cérebro. Temo um pouco pela resposta.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Responsabilidade ecológica
Nunca imprimi tantas folhas na vida. Desde 2005 eu tinha um pacote de Chamex que até pouco tempo atrás ainda era consistente o bastante para parar em pé. No último mês ele foi minguando até restar quase nada. Eram 500 folhas. Como ele não estava cheio e ainda restam algumas, calculo que se tenham ido umas 300. Como ainda vou imprimir uma cópia para revisão daquela coisa da qual já me libertei emocionalmente, e depois tenho que imprimir três cópias finalizadas pra banca e mais uma pra mim, já vão mais quase 400. Como além disso ainda teve as folhas recicladas que não saíram do pacote Chamex, chuto que tenha usado quase mil folhas. É muita folha.
Todo essa estimativa foi para descobrir quantas árvores tiveram que morrer em nome de um trabalho limitadíssimo sobre a representação de Porto Alegre no radiojornalismo. Nem vou entrar no mérito de que haveria muitas coisas mais dignas pelas quais morrer, só levanto o problema porque não achei a resposta. Como acontece com tudo na internet, há informações contraditórias. A mais disseminada é que um pinheiro rende cerca de 50 quilos de papel, mas fiquei meio desconfiada. Pensei em perguntar pra Chamex, mas eles têm o pior site da história e não tem nenhum telefone de SAC na embalagem. Não que eu pretenda plantar um pinheiro no pátio pra compensar, mas, sei lá, me sinto em dívida com uma árvore.
Todo essa estimativa foi para descobrir quantas árvores tiveram que morrer em nome de um trabalho limitadíssimo sobre a representação de Porto Alegre no radiojornalismo. Nem vou entrar no mérito de que haveria muitas coisas mais dignas pelas quais morrer, só levanto o problema porque não achei a resposta. Como acontece com tudo na internet, há informações contraditórias. A mais disseminada é que um pinheiro rende cerca de 50 quilos de papel, mas fiquei meio desconfiada. Pensei em perguntar pra Chamex, mas eles têm o pior site da história e não tem nenhum telefone de SAC na embalagem. Não que eu pretenda plantar um pinheiro no pátio pra compensar, mas, sei lá, me sinto em dívida com uma árvore.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Um dia amish
7:30 – Você acorda e é um lindo dia de sol. Há 15 horas você está sem eletricidade, mas você vê nisso a linda possibilidade de se dedicar às suas plantas. Você começa pela violeta, mas cuidar de Violeta se resume a regá-la. No pátio, com a planta que tem sol e chuva, jardinagem se resume a fazer nada, que geralmente é o seu tipo preferido de jardinagem, mas você está de pé às sete e meia da manhã e não tem luz.
7:45 – Você pensa em aproveitar o tempo e fazer um belo café da manhã. Você coloca a caneca com leite no microondas e ele obviamente não liga. Mas tudo bem, você até se diverte com a sua patetice e olha como é engraçado, a gente nem se dá conta do quanto a eletricidade faz parte das nossas vidas, não é mesmo? Fica ainda mais engraçado quando você precisa lavar a leiteira na água gelada num horário que você normalmente não saberia dizer nem o seu próprio nome. Hilário.
7:50 – Você pensa em fazer o resumo da sua monografia, mas computadores tendem a não funcionar sem eletricidade. Você pensa em escanear as fotos que uma amiga precisa, mas veja só, scanners seguem a mesma tendência que computadores. Você vaga pela casa em busca de idéias. Diante do aquecedor de água à gás, você se ajoelha em agradecimento e vai tomar banho.
8:20 – Você é um gênio e como não pensou nisso antes? Você pega uma canga, um livro que está há horas esperando para ser lido, faz um chimarrão e ruma para a Redenção. Na porta, você lembra que a Dell ficou de ir na sua casa trocar um monitor.
8:40 – Você mantém a calma e começa uma lista mental de coisas para fazer sem eletricidade
*Dormir
*Conversar com a Violeta
*Alcançar o Nirvana
8:41 – Você percebe que
*Não está com sono
*Violeta não é muito comunicativa
*Alcançar o Nirvana deve ser meio demorado e você tem planos para o almoço
8:42 – Você está sozinho, em silêncio, no escuro, espremendo laranjas.
9:01 – Morto de tédio, você liga para a Dell, que iria à sua casa entre 9h e 12h, e pergunta se eles têm previsão de chegada, se dá para te colocar no topo da lista de atendimentos do técnico, se ele pode chegar tipo, de repente, quem sabe, agora?
9:05 – A Dell não compreende você.
9:06 – Numa vibe Scarlett O’Hara você pensa “nunca mais passarei fome”. Não, espera, não é isso. Você pensa “nada vai estragar o meu dia”, pega a máquina fotográfica e vai tirar fotos. Mas, evidente, a bateria acaba e você (como cansamos de reiterar) não tem luz. Você odeia a CEEE, amaldiçoa todos seus funcionários e pensa em se enforcar no fio de luz que, afinal, tá aí sem uso mesmo.
9:30 – Você lembra que, além de plantas incrivelmente paradas, tem três cachorros e o mundo é bonito de novo.
7:45 – Você pensa em aproveitar o tempo e fazer um belo café da manhã. Você coloca a caneca com leite no microondas e ele obviamente não liga. Mas tudo bem, você até se diverte com a sua patetice e olha como é engraçado, a gente nem se dá conta do quanto a eletricidade faz parte das nossas vidas, não é mesmo? Fica ainda mais engraçado quando você precisa lavar a leiteira na água gelada num horário que você normalmente não saberia dizer nem o seu próprio nome. Hilário.
7:50 – Você pensa em fazer o resumo da sua monografia, mas computadores tendem a não funcionar sem eletricidade. Você pensa em escanear as fotos que uma amiga precisa, mas veja só, scanners seguem a mesma tendência que computadores. Você vaga pela casa em busca de idéias. Diante do aquecedor de água à gás, você se ajoelha em agradecimento e vai tomar banho.
8:20 – Você é um gênio e como não pensou nisso antes? Você pega uma canga, um livro que está há horas esperando para ser lido, faz um chimarrão e ruma para a Redenção. Na porta, você lembra que a Dell ficou de ir na sua casa trocar um monitor.
8:40 – Você mantém a calma e começa uma lista mental de coisas para fazer sem eletricidade
*Dormir
*Conversar com a Violeta
*Alcançar o Nirvana
8:41 – Você percebe que
*Não está com sono
*Violeta não é muito comunicativa
*Alcançar o Nirvana deve ser meio demorado e você tem planos para o almoço
8:42 – Você está sozinho, em silêncio, no escuro, espremendo laranjas.
9:01 – Morto de tédio, você liga para a Dell, que iria à sua casa entre 9h e 12h, e pergunta se eles têm previsão de chegada, se dá para te colocar no topo da lista de atendimentos do técnico, se ele pode chegar tipo, de repente, quem sabe, agora?
9:05 – A Dell não compreende você.
9:06 – Numa vibe Scarlett O’Hara você pensa “nunca mais passarei fome”. Não, espera, não é isso. Você pensa “nada vai estragar o meu dia”, pega a máquina fotográfica e vai tirar fotos. Mas, evidente, a bateria acaba e você (como cansamos de reiterar) não tem luz. Você odeia a CEEE, amaldiçoa todos seus funcionários e pensa em se enforcar no fio de luz que, afinal, tá aí sem uso mesmo.
9:30 – Você lembra que, além de plantas incrivelmente paradas, tem três cachorros e o mundo é bonito de novo.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Uma longa história sobre um terçol
Já faz uns dez dias que estou com um terçol no olho direito. Por motivos obscuros, terçois volta e meia aparecem nos meus olhos desde... muitos anos atrás. A coisa piorou depois que um, ou alguns, meio que se alojaram na parte interna do olho em um cisto (eu não sei a explicação correta para isso, se ele se transformou em um cisto, se ele entrou em um cisto ou se o tal cisto apareceu do nada e eles fizeram amizade), e desde então os terçois neste olho ficaram mais freqüentes.
Obviamente, eu enchei o saco de passar tantas semanas da minha vida lavando os olhos com soro fisiológico e fui a uma oftalmologista para resolver o assunto. Mas quando ela fez a sugestão muito amável de virar minhas pálpebras do avesso, mantê-las abertas com instrumentos cirúrgicos que eu fiz questão de esquecer o nome e cavocar dentro dos meus olhos com objetos cortantes, eu achei que um terçol aqui, outro ali, nem me incomodavam tanto assim. Fui embora e nunca mais pisei numa clínica de oftalmologia.
A vida seguiu normalmente apesar de todo terrorismo que a médica tinha feito. Mas aí há uns dez dias surgiu esse terçol. Como de praxe, eu não fiz nada a respeito (depois de tratar umas dezenas de terçois com soro e/ou colírios eu descobri que também poderia não tratá-los que eles eventualmente desapareceriam por conta própria: infinitamente mais prático), mas como ele sequer diminuiu eu comecei a me preocupar.
Então comecei pelo tratamento mais fácil: compressas de água quente. Elas costumam surtir efeito em um ou dois dias, mas dessa vez não fizeram nem cócegas. Aí parti pro soro fisiológico, que costuma demorar mais para fazer algum efeito e aconteceu o que sempre acontecia, eu me entediei antes de qualquer resultado e larguei de mão. Então decidi apelar pro colírio, mas eu não tinha mais nenhum em casa (já faz anos que adotei o não-tratamento como tratamento oficial) e me recuso a gastar um centavo que seja em um negócio que, não apenas arde no olho, como se alastra por toda cavidade da cabeça e deixa um gosto amargo na garganta.
De novo, estava determinada a esperar passar. Mas como ontem dediquei todo meu dia às regras da ABNT (morra, ABNT), curar o terçol pareceu um objetivo grave o bastante para me tirar do trabalho mas menos chato que a formatação de índices. Esgotados todos os tratamentos humanos, resolvi colocar em prática aquele que eu sempre evitei: esfregar uma aliança e encostá-la no terçol. A idéia é que o calor mata a bactéria, mas o que ninguém diz, apesar de óbvio, é que isso também dói na pessoa atrás da bactéria. Mas entre brigar com meu word 2003 e superar uma fobia, bora lá queimar uma pálpebra.
Porém, eu não tenho uma aliança, tampouco meus pais têm alianças já que nunca casaram perante deus ou um oficial de justiça. Além disso, sou uma pessoa pobre e que perde as coisas por aí, motivos pelos quais seria incrivelmente idiota eu comprar jóias de ouro. Mas qualquer anel vai funcionar, certo? Errado. Nenhum dos meus anéis ficou quente mesmo depois de muita esfregação na calça jeans. Tentei deixar um tempo na frente da estufa. Nada. Até tenho um anel que um artesão certa vez me disse ser muito frágil e que, sob o mínimo calor, poderia derreter. Eu não acreditei muito, e pensei em tentar esquentar esse, mas aí me ocorreu que vá que fosse verdade, e se ele derretesse um pouco dentro do meu olho eu acabaria com um problema ainda maior. O que poderia ser bom caso me rendesse um atestado médico que prolongasse os prazos da monografia, mas poderia ser ruim caso, hm, me deixasse cega.
Diante da minha brutal incapacidade de resolver o problema, fiz a única coisa que me restava. Coloquei um Charly Garcia para tocar e tomei um café com bolachas. Se alguém aí souber uma simpatia para curar terçois, eu aceito muito uma sugestão. Desde que não envolva sangrar galinhas ou conversar com os mortos, tô dentro.
Obviamente, eu enchei o saco de passar tantas semanas da minha vida lavando os olhos com soro fisiológico e fui a uma oftalmologista para resolver o assunto. Mas quando ela fez a sugestão muito amável de virar minhas pálpebras do avesso, mantê-las abertas com instrumentos cirúrgicos que eu fiz questão de esquecer o nome e cavocar dentro dos meus olhos com objetos cortantes, eu achei que um terçol aqui, outro ali, nem me incomodavam tanto assim. Fui embora e nunca mais pisei numa clínica de oftalmologia.
A vida seguiu normalmente apesar de todo terrorismo que a médica tinha feito. Mas aí há uns dez dias surgiu esse terçol. Como de praxe, eu não fiz nada a respeito (depois de tratar umas dezenas de terçois com soro e/ou colírios eu descobri que também poderia não tratá-los que eles eventualmente desapareceriam por conta própria: infinitamente mais prático), mas como ele sequer diminuiu eu comecei a me preocupar.
Então comecei pelo tratamento mais fácil: compressas de água quente. Elas costumam surtir efeito em um ou dois dias, mas dessa vez não fizeram nem cócegas. Aí parti pro soro fisiológico, que costuma demorar mais para fazer algum efeito e aconteceu o que sempre acontecia, eu me entediei antes de qualquer resultado e larguei de mão. Então decidi apelar pro colírio, mas eu não tinha mais nenhum em casa (já faz anos que adotei o não-tratamento como tratamento oficial) e me recuso a gastar um centavo que seja em um negócio que, não apenas arde no olho, como se alastra por toda cavidade da cabeça e deixa um gosto amargo na garganta.
De novo, estava determinada a esperar passar. Mas como ontem dediquei todo meu dia às regras da ABNT (morra, ABNT), curar o terçol pareceu um objetivo grave o bastante para me tirar do trabalho mas menos chato que a formatação de índices. Esgotados todos os tratamentos humanos, resolvi colocar em prática aquele que eu sempre evitei: esfregar uma aliança e encostá-la no terçol. A idéia é que o calor mata a bactéria, mas o que ninguém diz, apesar de óbvio, é que isso também dói na pessoa atrás da bactéria. Mas entre brigar com meu word 2003 e superar uma fobia, bora lá queimar uma pálpebra.
Porém, eu não tenho uma aliança, tampouco meus pais têm alianças já que nunca casaram perante deus ou um oficial de justiça. Além disso, sou uma pessoa pobre e que perde as coisas por aí, motivos pelos quais seria incrivelmente idiota eu comprar jóias de ouro. Mas qualquer anel vai funcionar, certo? Errado. Nenhum dos meus anéis ficou quente mesmo depois de muita esfregação na calça jeans. Tentei deixar um tempo na frente da estufa. Nada. Até tenho um anel que um artesão certa vez me disse ser muito frágil e que, sob o mínimo calor, poderia derreter. Eu não acreditei muito, e pensei em tentar esquentar esse, mas aí me ocorreu que vá que fosse verdade, e se ele derretesse um pouco dentro do meu olho eu acabaria com um problema ainda maior. O que poderia ser bom caso me rendesse um atestado médico que prolongasse os prazos da monografia, mas poderia ser ruim caso, hm, me deixasse cega.
Diante da minha brutal incapacidade de resolver o problema, fiz a única coisa que me restava. Coloquei um Charly Garcia para tocar e tomei um café com bolachas. Se alguém aí souber uma simpatia para curar terçois, eu aceito muito uma sugestão. Desde que não envolva sangrar galinhas ou conversar com os mortos, tô dentro.
domingo, 8 de junho de 2008
Eterno retorno
Esses dias uma amiga que foi minha colega de Bom Conselho da pré-escola ao vestibular me mandou uma foto de quando tínhamos, sei lá, bem poucos anos de vida e estávamos apresentando uma música aos nossos pais no final do ano (ou no dia das mães, ou na páscoa, ou qualquer data do calendário cristão a que estávamos submetidos em um colégio franciscano). Pois bem, a música da minha turma era Abecedário da Xuxa. Cada criança ganhava uma letra para colar no peito e chamar de sua e, todos juntos, tínhamos uma coreografia para apresentar a música e no final formar a palavra Amor. Como mostra a foto, eu fui o R (de riacho).
Quando vi isso e me veio toda aquela onda de nostalgia, tive mais uma prova de como a vida caminha numa espiral. Àquela época, apesar de numerosos ensaios, tinha algumas letras que eu nunca lembrava que palavra começavam (como o C, o D e o M). Lembro de ter feito algum esforço para decorar, mas não tinha jeito, até que chegou um momento que eu já não tava mais nem aí e só queria subir no palco com a minha roupinha ridícula, sorrir para todo lado e receber as palmas no final. Pois bem, hoje eu sento diante dessa tela e já estou pouco me lixando para que filósofo alemão defendia que teoria e só quero subir no palco com a minha toga ridícula, sorrir para todo lado e receber meu diploma no final.
Aliás, não lembro de quem pegamos a máquina fotográfica emprestada, mas adoraria ver as fotos do nosso ensaio "poses casuais de toga" no pátio da Fabico.
Quando vi isso e me veio toda aquela onda de nostalgia, tive mais uma prova de como a vida caminha numa espiral. Àquela época, apesar de numerosos ensaios, tinha algumas letras que eu nunca lembrava que palavra começavam (como o C, o D e o M). Lembro de ter feito algum esforço para decorar, mas não tinha jeito, até que chegou um momento que eu já não tava mais nem aí e só queria subir no palco com a minha roupinha ridícula, sorrir para todo lado e receber as palmas no final. Pois bem, hoje eu sento diante dessa tela e já estou pouco me lixando para que filósofo alemão defendia que teoria e só quero subir no palco com a minha toga ridícula, sorrir para todo lado e receber meu diploma no final.
Aliás, não lembro de quem pegamos a máquina fotográfica emprestada, mas adoraria ver as fotos do nosso ensaio "poses casuais de toga" no pátio da Fabico.
sábado, 7 de junho de 2008
Mais um vídeo ruim do Caetano Veloso
Quando estava procurando os vídeos que citei dias atrás, encontrei também este com Esse Cara e Tatuagem. O resultado não é nada espetacular, mas vale pra ver o Chico Buarque vomitando palavras no começo e fazendo a maior cara de total incompreensão diante do baiano mais odara-tudo-é-muito-lindo que o mundo já viu. Afinal, antes de ser um senhor respeitável, o Leãozinho já vestiu calças verde-água e tentou seduzir Jorge Ben quando ele ainda era Jor. Não sei, não, assim você acaba não conquistando ninguém, Caetano.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Oscar para o Busatto
Melhor ator do Brasil. Como consegue ser tão cara de pau, meu deus, como consegue? Entrevista mais deprimente que eu já vi na vida. Vergonha de pertencer à mesma espécie que essa gente. Alguém, por favor, exploda o Piratini.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Take my arm, take my leg
Sempre gostei dos covers que Caetano Veloso engembra. Os primeiros que conheci foram do Fina Estampa, álbum que eu gosto desde criança. Com nove anos de idade, me deslumbrava a idéia de que uma música "de adulto" pudesse falar de um Crocodilo Verde. Anos depois conheci Fito Paez e descobri de onde vinha aquele Vestido y un amor tão bonitos.
Com o passar dos anos me afeiçoei (sempre quis usar essa palavra) a outras versões. Minha preferida do momento é Let it Bleed, original dos Stones que Caetano canta em um inglês charmosamente abaianado. Mas também gosto do bolero sofrido para Tu Me Acostumbraste, da baladinha que ele fez para Billie Jean, da deprê em que ele transformou Help. Acho linda essa Burn it Blue que não sei de quem é, nem de onde saiu, mas ele foi cantar para o filme Frida. Verdade que aquela Cucurrucucu Paloma do Fale com Ela me cansa um pouco e não vejo nada de bom na Come As You Are, mas, via de regra, gosto das interpretações dele para os outros.
O que tudo isso tem a ver com o jardim que esse blog registra? A princípio, nada. Mas se pesquisadores coreanos estiverem certos sobre o efeito de ópera sobre o crescimento de plantas, me pergunto qual será o efeito do Caetano na Violeta, já que ele tem sido o primeiro nas paradas do meu Windows Media Player. Mas vou ficar só no estágio de "me perguntar" porque nunca consideraria fazer o que esse sujeito está fazendo. Aliás, vou aproveitar o tempo que eu gastar me perguntando o que acontecerá com Violeta para já me perguntar também o que será que Vivaldi pensaria se soubesse que suas músicas estão sendo usadas por um religioso paranaense para ninar sementes de soja.
PS em letras miúdas de final de contrato: alguns vídeos são péssimos, mas estão aí para serem ouvidos, não vistos. Ainda que seja engraçado o Michael Jackson mandando ver no moon walk ao som de voz e violão.
Com o passar dos anos me afeiçoei (sempre quis usar essa palavra) a outras versões. Minha preferida do momento é Let it Bleed, original dos Stones que Caetano canta em um inglês charmosamente abaianado. Mas também gosto do bolero sofrido para Tu Me Acostumbraste, da baladinha que ele fez para Billie Jean, da deprê em que ele transformou Help. Acho linda essa Burn it Blue que não sei de quem é, nem de onde saiu, mas ele foi cantar para o filme Frida. Verdade que aquela Cucurrucucu Paloma do Fale com Ela me cansa um pouco e não vejo nada de bom na Come As You Are, mas, via de regra, gosto das interpretações dele para os outros.
O que tudo isso tem a ver com o jardim que esse blog registra? A princípio, nada. Mas se pesquisadores coreanos estiverem certos sobre o efeito de ópera sobre o crescimento de plantas, me pergunto qual será o efeito do Caetano na Violeta, já que ele tem sido o primeiro nas paradas do meu Windows Media Player. Mas vou ficar só no estágio de "me perguntar" porque nunca consideraria fazer o que esse sujeito está fazendo. Aliás, vou aproveitar o tempo que eu gastar me perguntando o que acontecerá com Violeta para já me perguntar também o que será que Vivaldi pensaria se soubesse que suas músicas estão sendo usadas por um religioso paranaense para ninar sementes de soja.
PS em letras miúdas de final de contrato: alguns vídeos são péssimos, mas estão aí para serem ouvidos, não vistos. Ainda que seja engraçado o Michael Jackson mandando ver no moon walk ao som de voz e violão.
terça-feira, 3 de junho de 2008
Entra em cena a nova personagem
Ganhei uma violeta dos meus pais. Ao contrário da planta genérica, Violeta fica no meu quarto. Está aqui ao lado, e isso gera uma tremenda pressão. Porque a planta está lá na rua e ela e a natureza que se entendam na minha ausência. Violeta depende de mim completamente. Para ter água, para não ser morada de mosquitos da dengue, para ficar ao sol. Parece bobo - e realmente é - mas só o fato de uma folha ter caído quando tirei-a da embalagem me deixou à beira da neurose: a cada cinco minutos toco a terra para ver se está úmida ou seca demais. Não que eu saiba o "ponto" da terra. Eu não faço a mais vaga idéia de como a terra deveria estar, mas tenho uma imprecisa esperança de que se Violeta perceber que eu realmente me importo, ela vai sobreviver apesar de toda minha ignorância e falta de jeito. Em outras proporções, me parece mais ou menos o tratamento que, por vezes demais, damos ao amor. A gente não sabe muito bem como lidar com ele, e aí só resta esperar que o outro reconheça em nós o que sinceramente sentimos mas não sabemos traduzir em cuidados básicos.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Quando a astrologia se impõe
Ironicamente, justo no dia do meu aniversário a astrologia me pegou de surpresa e veio provar que, apesar de toda evidência em contrário, às vezes a gente é muito do signo que é. Ontem dei uma de geminiana agindo da maneira mais signo de ar possível.
[Signos de ar: Gêmeos, Libra e Aquário. São os civilizados do Zodíaco. Têm a mente lógica e aberta a novas idéias. Às vezes você achará que eles não estão muito atentos às suas coisas, pois eles têm um aspecto de estarem permanentemente desligados. Fazem doze coisas ao mesmo tempo. Mudam de idéia com a mesma freqüência que respiram. Começam frases e não as]
Pois antes fosse apenas um aspecto desligado. Joguei fora o meu feijão. Ao arrumar o quarto, olhei para o copinho de plástico com algodão e imediatamente pensei "que raios? Que bagunça, que horror". Foi pro lixo. Tchau, feijão.
[Signos de ar: Gêmeos, Libra e Aquário. São os civilizados do Zodíaco. Têm a mente lógica e aberta a novas idéias. Às vezes você achará que eles não estão muito atentos às suas coisas, pois eles têm um aspecto de estarem permanentemente desligados. Fazem doze coisas ao mesmo tempo. Mudam de idéia com a mesma freqüência que respiram. Começam frases e não as]
Pois antes fosse apenas um aspecto desligado. Joguei fora o meu feijão. Ao arrumar o quarto, olhei para o copinho de plástico com algodão e imediatamente pensei "que raios? Que bagunça, que horror". Foi pro lixo. Tchau, feijão.
E como assim os civilizados do zodíaco?
Todos os outros são os selvagens do zodíaco?
Todos os outros são os selvagens do zodíaco?
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Cansei de ouvir abobrinhas
Foram apenas dois dias, eu sei, mas a natureza está forçando a amizade em não me dar novidades nem na planta de espécie desconhecida nem no recente feijão. Na minha memória, essas sementes em algodão cresciam em velocidade alucinante (se formos gentis na comparação).
Trilha sonora: Itamar Assumpção, com a música do título
Trilha sonora: Itamar Assumpção, com a música do título
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Deixe tudo para depois
Por indicação de um certo Machiavelli, conheci a procrastinação estruturada. Eu recomendo a leitura do original, mas como sei que grande parte dos meus leitores vai provar a teoria do sujeito ao deixar para ler depois, comento aqui os highlights do texto. A idéia básica é a seguinte: mesmo o mais convicto procrastinador do mundo pode dar cabo às suas tarefas. Basta organizá-las em um hierarquia e, como é de sua natureza, realizar as menos importante a fim de evitar as mais importantes. Nos diz John Perry, um respeitado professor universitário, que o procrastinador não é aquele que não faz nada.
Eles fazem coisas úteis às margens, como cortar a grama ou apontar lápis ou montar um diagrama de como vão organizar os seus arquivos quando forem organizá-los. Porque o procrastinador faz isso? Porque são maneiras de não fazer coisas mais importantes. Se tudo que o procrastinador tivesse para fazer no mundo fosse apontar um lápis, nenhuma força na Terra poderia forçá-lo a isso.
Logo, o jeito de terminar aquele trabalho que está sendo adiado há dias é assumir um trabalho mais importante. Assim, o procrastinador fará o menos urgente apenas para evitar chegar no topo da lista de hierarquias. E, como fica, aliás, o topo da lista de hierarquias, com tarefas que nunca se cumprem? Dr. Perry tem a resposta.
O tipo ideal de coisas [para figurar no topo da lista] tem duas características. Primeiro, elas parece ter um prazo claro (mas na verdade não o tem). Segundo, elas parecem terrivelmente importantes (mas na verdade não o são). Por sorte, a vida abunda com tarefas deste tipo. Nas universidades, a vasta maioria das tarefas cai nessa categoria, e eu tenho certeza que isso vale para a maior parte de outras grandes instituições.
Um exemplo prático: escrevo este post apenas para evitar a revisão de sete tabelas de análise. Tarefa que eu deveria ter feito lá pelo dia 5 de maio. É provável que em breve eu revise-as de fato, para não precisar ir atrás de referências bibliográficas que eu há muito perdi em papéis flutuantes. Eventualmente, alguma coisa será mais importante que tudo isso junto, e aí eu me formo.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Basta!
Já que eu andava frustrada com a constância da planta e com a falta de momentos dedicado às coisas inúteis, resolvi colocar um fim aos dois problemas de uma vez só e fiz a coisa mais sem propósito possível. Plantei um feijão. Se minhas lembranças de pré-escola não me falham, taí um ser que não demora em dar as caras.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Crise adolescente atrasada, ou crise de meia-idade adiantada?
A planta segue sua vida sem percalços. Não há ciclone, chuvas ou vento que a derrube. Já eu, está bastando uma monografia. Eu sei, eu sei, eu também detesto fazer drama em cima dos pequenos conflitos da existência que não terão a menor importância daqui seis meses, mas é brabo. A moral toda desse blog, muito antes de se entediar com uma planta (e agora me dou conta que até hoje nunca me perguntei a que raio de espécie ela pertence), era ter um espaço para pensar e escrever coisas sem obrigações.
Entre o trabalho, as poucas aulas da faculdade e a monografia, todo meu tempo era gasto em coisas necessárias. O blog pretendia ser um diário de coisas inúteis. Não necessariamente irrelevantes, apenas sem nenhum objetivo específico, sem um fim definido. Tinha cansado de, mesmo quando diante de assuntos interessantes, precisar pensar neles em formato de matéria, em formato acadêmico, em títulos e subtítulos (até porque eu odeio dar títulos). E continuo cansada destas exatas mesmas coisas. E o cansaço tem me ganhado na hora de vir aqui pensar livremente em qualquer coisa.
Sem falar no tempo. Enquanto os dias não tiverem o dobro de horas, não sei como fazer nem as coisas que eu devo, que dirá as coisas que eu quero. E eu acho triste alguém da minha idade reclamar de falta de tempo, não me parece algo que alguém deveria fazer antes do trinta e cinco anos, no mínimo. Acho triste a falta que me faz o ócio em boa companhia. E me pergunto se é a isso que a gente se acostuma quando cresce. Se virar adulto é se acostumar a ver os amigos apenas como nomes que piscam em uma tela, se acostumar à exaustão ao fim do dia e aos finais de semana ocupados em terminar o que não deu para fazer ainda. Se for isso mesmo, só me resta perguntar, para quê?
Entre o trabalho, as poucas aulas da faculdade e a monografia, todo meu tempo era gasto em coisas necessárias. O blog pretendia ser um diário de coisas inúteis. Não necessariamente irrelevantes, apenas sem nenhum objetivo específico, sem um fim definido. Tinha cansado de, mesmo quando diante de assuntos interessantes, precisar pensar neles em formato de matéria, em formato acadêmico, em títulos e subtítulos (até porque eu odeio dar títulos). E continuo cansada destas exatas mesmas coisas. E o cansaço tem me ganhado na hora de vir aqui pensar livremente em qualquer coisa.
Sem falar no tempo. Enquanto os dias não tiverem o dobro de horas, não sei como fazer nem as coisas que eu devo, que dirá as coisas que eu quero. E eu acho triste alguém da minha idade reclamar de falta de tempo, não me parece algo que alguém deveria fazer antes do trinta e cinco anos, no mínimo. Acho triste a falta que me faz o ócio em boa companhia. E me pergunto se é a isso que a gente se acostuma quando cresce. Se virar adulto é se acostumar a ver os amigos apenas como nomes que piscam em uma tela, se acostumar à exaustão ao fim do dia e aos finais de semana ocupados em terminar o que não deu para fazer ainda. Se for isso mesmo, só me resta perguntar, para quê?
domingo, 18 de maio de 2008
Para constar
Retorno deste hiato sem atualizações apenas para dizer que se a vida não dá receita eu não vou pagar a consulta.
terça-feira, 13 de maio de 2008
Sons, ilusões sonoras e música natural
Ok, esqueçam a planta. Ela é a prova de que a filosofia budista se baseia em uma mentira. Tudo é impermanente uma ova.
Por falar em coisas que não se movem, eu fui obrigada a estudar o som nos últimos tempos e, ao contrário deste blog, o som é apenas capaz de registrar aquilo que se movimenta. No caso do rádio, é possível transmitir os passos de alguém, a decolagem de um avião ou o estouro de uma manada de búfalos. Mas não é possível tocar o som de uma pedra, uma cadeira ou uma pessoa parada em uma esquina. Uma das idéias que eu coloco na minha monografia in progress (que não é nem de perto o ponto central, mas não convém ficar por aí desperdiçando idéias) é que este é um dos pontos de aproximação entre rádio e jornalismo, já que o jornalismo também se ocupa apenas de acontecimentos e não de situações permanentes.
Mas, reconheço, isso não interessa a ninguém. O que pode interessar são as pequenas coisas com as quais venho me deparando nesse mergulho no universo do som (todas pedem um fone de ouvido, ou não tem graça nenhuma). Muitos já devem conhecer o corte de cabelo virtual, que, em todas as audições que eu já presenciei, provocou risos, arrepios e admiração. Aqui, aqui e aqui há uma série de ilusões sonoras bastante curiosas que pregam peças no seu, no meu, nos nossos cérebros constantemente buscando reconhecer o mundo. Em um site para turistas de Hong Kong, gravações registram os sons da cidade, como os do mercado público ou um restaurante típico. Por fim, minha mãe me enviou esses dias um e-mail falando do Órgão do Mar, na Croácia. A administração local quis promover algumas intervenções no espaçu público e criou este órgão natural controlado pelas ondas do mar. Não é Bach, mas ganha na paisagem.
Por falar em coisas que não se movem, eu fui obrigada a estudar o som nos últimos tempos e, ao contrário deste blog, o som é apenas capaz de registrar aquilo que se movimenta. No caso do rádio, é possível transmitir os passos de alguém, a decolagem de um avião ou o estouro de uma manada de búfalos. Mas não é possível tocar o som de uma pedra, uma cadeira ou uma pessoa parada em uma esquina. Uma das idéias que eu coloco na minha monografia in progress (que não é nem de perto o ponto central, mas não convém ficar por aí desperdiçando idéias) é que este é um dos pontos de aproximação entre rádio e jornalismo, já que o jornalismo também se ocupa apenas de acontecimentos e não de situações permanentes.
Mas, reconheço, isso não interessa a ninguém. O que pode interessar são as pequenas coisas com as quais venho me deparando nesse mergulho no universo do som (todas pedem um fone de ouvido, ou não tem graça nenhuma). Muitos já devem conhecer o corte de cabelo virtual, que, em todas as audições que eu já presenciei, provocou risos, arrepios e admiração. Aqui, aqui e aqui há uma série de ilusões sonoras bastante curiosas que pregam peças no seu, no meu, nos nossos cérebros constantemente buscando reconhecer o mundo. Em um site para turistas de Hong Kong, gravações registram os sons da cidade, como os do mercado público ou um restaurante típico. Por fim, minha mãe me enviou esses dias um e-mail falando do Órgão do Mar, na Croácia. A administração local quis promover algumas intervenções no espaçu público e criou este órgão natural controlado pelas ondas do mar. Não é Bach, mas ganha na paisagem.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Também os peixes
Eu sempre detestei aquários. Porque são cruéis, acima de tudo. Mas também porque são parados. Especialmente os peixes que já moraram na minha casa passavam a vida se escondendo dentro de conchas, mini-navios, troncos e aqueles inexplicáveis brinquedos para peixes (eles brincam?). Então o máximo de ação eram as bolhas de ar. Eu achei que, na categoria de seres vivos que mantemos sob nosso domínio, nada poderia ser tão entediante quanto isso. A planta apareceu para provar o contrário.
General Franco
Essa situação toda me lembra uma histórinha que o professor Canali (vulgo Geraldo-ganhei-um-milhão-processando-a-Band-Canali) contou em aula. Quando, em 1975, na Espanha, Francisco Franco estava moribundo em um hospital de Madrid, os jornais de rádio transmitiam, quase de hora em hora, um boletim médico no qual nem as vírgulas mudavam de lugar. Lia algo como "a junta médica lamenta informar que o estado de saúde do general Franco permanece inalterado". Penso em programar postagens automáticas com o texto "lamento informar que o estado da planta segue inalterado" para os próximos dois meses ou algo assim, quando talvez o inverno derrube ou seque algumas folhas.
domingo, 11 de maio de 2008
Pelas tabelas
Tudo igual com a planta. Talvez ela não rendesse um diário no final das contas. Espero que hoje ela cresça, murche ou tente se matar.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Diz o dito popular
Hoje conversei com a planta, na esperança de que a crença popular tenha certo fundamento e ela reaja de alguma forma. Qualquer forma.
Ok, minto. Na verdade eu conversei com um dos meus cachorros porque isso me parece menos idiota. Mas eu estava bem ao lado da planta e até olhava para ela de vez em quando. Também, que se dane. Se ela corresse até o portão, me olhasse com olhos pidões e me acompanhasse até a porta se enosando nos meus pés, até batia um papo. Mas cada um com o que lhe cabe.
Ok, minto. Na verdade eu conversei com um dos meus cachorros porque isso me parece menos idiota. Mas eu estava bem ao lado da planta e até olhava para ela de vez em quando. Também, que se dane. Se ela corresse até o portão, me olhasse com olhos pidões e me acompanhasse até a porta se enosando nos meus pés, até batia um papo. Mas cada um com o que lhe cabe.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Nada a declarar
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Filosofia a essa hora da manhã?
Enquanto a planta segue sua existência sem alarde, eu segui no devaneio sobre ciborgues e máquinas. Talvez tenha sido Marshall McLuhan (quem se importa?) que definiu a tecnologia como extensão do homem. Ele se referia ao universo simbólico do humano, algo mais no sentido do gravador de som permitir ao homem estar presente no outro lado do mundo por meio da sua voz, mas como eu já posso estar trocando o nome do sujeito mesmo, me permito distorcer a idéia para pensar a tecnologia como extensão física. Como se a tecnologia fosse apenas uma forma de fazer aquilo que nosso corpo não permite, seja com um foguete para dar uma volta na lua, um barco para atravessar um oceano ou um simples óculos escuros para caminhar ao sol sem franzir a testa. Na prática, não muda nada, e a tecnologia poderá continuar sendo usada para o bem ou para o mal. Essa visão apenas nos aproxima da nossa criação, o que pode ser ruim ao levar a uma confusão geral entre o que é homem e o que é máquina; ou pode ser bom, tirando a tecnologia do pedestal que hoje ela parece ocupar e devolvendo ao homem o poder de decisão sobre o que as máquinas fazem do mundo.
Como eu não sou autoridade em nada (é o que se ganha sendo jornalista, os famosos mestres de porra nenhuma), cito Aldous Huxley, que se não entendia do assunto, pelo menos inventava bem, e disse que o progresso tecnológico apenas criou formas mais eficientes para retrocedermos. É, eu sei, contraria o que eu disse, é o outro mal de jornalista: ir atrás do contraponto. Se eu fosse concordar comigo, tinha citado o all-time favorite escritor de Miss, Saint-Exupery, que disse que a tecnologia não isola o homem da natureza. Mas tem que ver que esse é um cara que viu no avião e no liquidificador as grandes invenções do seu tempo e morreu um ano antes da primeira bomba atômica explodir.
Delírios à parte, preciso ir lá regar minha planta que, vejam que atraso, precisa de água para viver.
Como eu não sou autoridade em nada (é o que se ganha sendo jornalista, os famosos mestres de porra nenhuma), cito Aldous Huxley, que se não entendia do assunto, pelo menos inventava bem, e disse que o progresso tecnológico apenas criou formas mais eficientes para retrocedermos. É, eu sei, contraria o que eu disse, é o outro mal de jornalista: ir atrás do contraponto. Se eu fosse concordar comigo, tinha citado o all-time favorite escritor de Miss, Saint-Exupery, que disse que a tecnologia não isola o homem da natureza. Mas tem que ver que esse é um cara que viu no avião e no liquidificador as grandes invenções do seu tempo e morreu um ano antes da primeira bomba atômica explodir.
Delírios à parte, preciso ir lá regar minha planta que, vejam que atraso, precisa de água para viver.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Nada escapa à era eletrônica
A Cris Stereoplásticos Teixeira me apresentou outra opção de planta (provavelmente desconfiada da minha capacidade de cuidar dessa) que se classifica dentro do que ela chamou de "jardinagem clubber" e não poderia haver termo melhor. A planta eletrônica vem com sensores digitais que indicam níveis de temperatura, água e oxigênio para que o leigo atrapalhado não afogue nem torre sua plantinha. A princípio eu fiquei meio com o pé atrás com essa tecnologia toda, mas depois fiquei pensando que, se é para ser assim, já podia colocar ali um relógio, uma caixinha de som e um cubo mágico.
Encontrado aqui, idéia deles
Forçando um pouco a barra - mas nem tanto - poderia dizer que o espécime aí de cima não deixa de ser uma planta ciborgue, que integra um mecanismo tecnológico a um corpo biológico. Aliás, lembro das aulas de Cibercultura nas quais o ciborgue era um personagem tão presente que era como se fosse um colega de classe (o Ciborgue levanta o dedo e pede para ir ao banheiro), e a discussão mais em pauta era até que ponto a gente aceitaria ser máquina. Poucos recusariam uma prótese de braço ou perna, mas havia quem torcesse o nariz para a possibilidade de pele sintética ou órgãos de plástico. Eu nunca me incomodei muito. Forçando a barra - mas nem tanto - se alguém que destroça os ossos do pulso é recauchutado com pinos de titânio, porque um hemofílico não deveria substituir seu sangue por um artificial, se pudesse?
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Como sobreviver à vida
A planta parece resistir bem a frio, chuva e ciclones. Aliás, nesse sentido, ela deve ser melhor companhia que eu, já que não pode reclamar da raiva que São Pedro despeja sobre nós (e eu nem vou entrar nessa agora porque tá abrindo um solzinho lá fora e não é bom cutucar o santo). Não apenas o clima não abala a planta, como também os acontecimento globais passam batidos para ela. De certa forma, me reconforta saber que logo ali no meu pátio há uma criatura que, alheia à loucura de um austríaco, à morte de uma criança e às eleições norte-americanas, se ocupa apenas em existir e respirar. Deve ser mais ou menos essa simplicidade que se busca na meditação. Mas eu não saberia dizer, deixo a questão para os iogues.
domingo, 4 de maio de 2008
Os homens tais as coisas
No caminho inverso, lembrei de quando emprestamos às pessoas características de seres inanimados. Influenciada pela presença da planta entre os meus atuais problemas, lembrei dos clichês olhos de jabuticaba, da pele macia como um pêssego ou a voz de taquara rachada. Mas exemplos com animais também existem aos montes. Talvez, ainda, com objetos, como a leveza de uma pluma, a burrice de uma porta ou a velocidade de um trem. Se essas figuras de linguagem (comparação por símile, me diz a wikipedia) nascem das nossas referências mais próximas, talvez no futuro a gente leia romances nos quais os personagens serão altos como arranha-céus, inquietos como celulares ou confusos como o trânsito de São Paulo. Para não dizer que não falei de flores, a planta segue exatamente igual.
sábado, 3 de maio de 2008
Tenho um rosto, logo existo
Apesar de me dar conta que o apego só atinge animais, não troquei o vaso. Quem mesmo disse que o homem é um animal social? É engraçado como tendemos a projetar emoções humanas em tudo que nos cerca. Além de ser o único animal que está sempre automaticamente buscando formas humanas em todas imagens que bate o olho – galhos de árvores, nuvens, desenhos abstratos – o homem concede alma a qualquer coisa que possua uma mínima semelhança a ele mesmo. É o que nos permite gostar do Mickey Mouse e ter pavor a ratos (Mickey foi meticulosamente desenhado com a cabeça grande demais para o corpo e olhos grandes em relação ao rosto para que tivesse sobre nós o mesmo encanto causado por bebês), o que fez Tom Hanks construir uma amizade com uma bola de vôlei com rosto, o que fazia com que eu e meus irmãos adorássemos um ser de pelúcia que não parecia animal algum: era apenas um bola com longos pêlos nos quais estavam grudados olhos, nariz e boca de lâminas de plástico. É de se perguntar como, mesmo dotados dessa generosidade em humanizar aquilo que nos toca, somos capazes de tratar tantos seres humanos, tão humanos quanto nós, como coisas, bichos ou números em estatísticas. Sorte têm os personagens da Disney.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
O primeiro impasse
Nada de novo com a planta. Penso em trocar ela de vaso, mas não sei até que ponto plantas são como cães e se apegam aos donos, ou são como gatos e se apegam às casas.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Um pouco supersticioso, quem não é?
De anteontem para ontem sonhei que estava em uma sessão de terapia. Do divã (dizem que se leva anos para chegar ao estágio do divã, é uma das belezas dos sonhos poder passar por cima de burocracias psicanalíticas), eu apenas ouvia a voz do meu suposto terapeuta.
- Tu cuidas de alguém? – ele falava um português muito correto.
- Como assim? – eu questiono meu subconsciente mesmo quando ele que está no comando
- Cuidas de alguém? Alguém precisa de ti?
- Para sobreviver? Acho que não.
- Deverias ter uma planta.
- Uma planta?
- É saudável ter um ser vivo que dependa de nós.
Eu discordei no sonho e discordaria acordada. Mas quando horas depois eu passava por uma floricultura na Protásio Alves e um sujeito muito alto com um vasto bigode perguntou “A moça não quer uma flor?” eu me senti obrigada a parar. Não quis a flor, mas voltei para casa com uma planta em um vaso feio. Assim, este blog nasce para acompanhar o crescimento de um vegetal.
- Tu cuidas de alguém? – ele falava um português muito correto.
- Como assim? – eu questiono meu subconsciente mesmo quando ele que está no comando
- Cuidas de alguém? Alguém precisa de ti?
- Para sobreviver? Acho que não.
- Deverias ter uma planta.
- Uma planta?
- É saudável ter um ser vivo que dependa de nós.
Eu discordei no sonho e discordaria acordada. Mas quando horas depois eu passava por uma floricultura na Protásio Alves e um sujeito muito alto com um vasto bigode perguntou “A moça não quer uma flor?” eu me senti obrigada a parar. Não quis a flor, mas voltei para casa com uma planta em um vaso feio. Assim, este blog nasce para acompanhar o crescimento de um vegetal.
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