sexta-feira, 30 de maio de 2008

Cansei de ouvir abobrinhas

Foram apenas dois dias, eu sei, mas a natureza está forçando a amizade em não me dar novidades nem na planta de espécie desconhecida nem no recente feijão. Na minha memória, essas sementes em algodão cresciam em velocidade alucinante (se formos gentis na comparação).

Trilha sonora: Itamar Assumpção, com a música do título

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Deixe tudo para depois

Por indicação de um certo Machiavelli, conheci a procrastinação estruturada. Eu recomendo a leitura do original, mas como sei que grande parte dos meus leitores vai provar a teoria do sujeito ao deixar para ler depois, comento aqui os highlights do texto. A idéia básica é a seguinte: mesmo o mais convicto procrastinador do mundo pode dar cabo às suas tarefas. Basta organizá-las em um hierarquia e, como é de sua natureza, realizar as menos importante a fim de evitar as mais importantes. Nos diz John Perry, um respeitado professor universitário, que o procrastinador não é aquele que não faz nada.

Eles fazem coisas úteis às margens, como cortar a grama ou apontar lápis ou montar um diagrama de como vão organizar os seus arquivos quando forem organizá-los. Porque o procrastinador faz isso? Porque são maneiras de não fazer coisas mais importantes. Se tudo que o procrastinador tivesse para fazer no mundo fosse apontar um lápis, nenhuma força na Terra poderia forçá-lo a isso.

Logo, o jeito de terminar aquele trabalho que está sendo adiado há dias é assumir um trabalho mais importante. Assim, o procrastinador fará o menos urgente apenas para evitar chegar no topo da lista de hierarquias. E, como fica, aliás, o topo da lista de hierarquias, com tarefas que nunca se cumprem? Dr. Perry tem a resposta.

O tipo ideal de coisas [para figurar no topo da lista] tem duas características. Primeiro, elas parece ter um prazo claro (mas na verdade não o tem). Segundo, elas parecem terrivelmente importantes (mas na verdade não o são). Por sorte, a vida abunda com tarefas deste tipo. Nas universidades, a vasta maioria das tarefas cai nessa categoria, e eu tenho certeza que isso vale para a maior parte de outras grandes instituições.

Um exemplo prático: escrevo este post apenas para evitar a revisão de sete tabelas de análise. Tarefa que eu deveria ter feito lá pelo dia 5 de maio. É provável que em breve eu revise-as de fato, para não precisar ir atrás de referências bibliográficas que eu há muito perdi em papéis flutuantes. Eventualmente, alguma coisa será mais importante que tudo isso junto, e aí eu me formo.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Basta!

Já que eu andava frustrada com a constância da planta e com a falta de momentos dedicado às coisas inúteis, resolvi colocar um fim aos dois problemas de uma vez só e fiz a coisa mais sem propósito possível. Plantei um feijão. Se minhas lembranças de pré-escola não me falham, taí um ser que não demora em dar as caras.


segunda-feira, 26 de maio de 2008

Crise adolescente atrasada, ou crise de meia-idade adiantada?

A planta segue sua vida sem percalços. Não há ciclone, chuvas ou vento que a derrube. Já eu, está bastando uma monografia. Eu sei, eu sei, eu também detesto fazer drama em cima dos pequenos conflitos da existência que não terão a menor importância daqui seis meses, mas é brabo. A moral toda desse blog, muito antes de se entediar com uma planta (e agora me dou conta que até hoje nunca me perguntei a que raio de espécie ela pertence), era ter um espaço para pensar e escrever coisas sem obrigações.

Entre o trabalho, as poucas aulas da faculdade e a monografia, todo meu tempo era gasto em coisas necessárias. O blog pretendia ser um diário de coisas inúteis. Não necessariamente irrelevantes, apenas sem nenhum objetivo específico, sem um fim definido. Tinha cansado de, mesmo quando diante de assuntos interessantes, precisar pensar neles em formato de matéria, em formato acadêmico, em títulos e subtítulos (até porque eu odeio dar títulos). E continuo cansada destas exatas mesmas coisas. E o cansaço tem me ganhado na hora de vir aqui pensar livremente em qualquer coisa.

Sem falar no tempo. Enquanto os dias não tiverem o dobro de horas, não sei como fazer nem as coisas que eu devo, que dirá as coisas que eu quero. E eu acho triste alguém da minha idade reclamar de falta de tempo, não me parece algo que alguém deveria fazer antes do trinta e cinco anos, no mínimo. Acho triste a falta que me faz o ócio em boa companhia. E me pergunto se é a isso que a gente se acostuma quando cresce. Se virar adulto é se acostumar a ver os amigos apenas como nomes que piscam em uma tela, se acostumar à exaustão ao fim do dia e aos finais de semana ocupados em terminar o que não deu para fazer ainda. Se for isso mesmo, só me resta perguntar, para quê?

domingo, 18 de maio de 2008

Para constar

Retorno deste hiato sem atualizações apenas para dizer que se a vida não dá receita eu não vou pagar a consulta.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Sons, ilusões sonoras e música natural

Ok, esqueçam a planta. Ela é a prova de que a filosofia budista se baseia em uma mentira. Tudo é impermanente uma ova.

Por falar em coisas que não se movem, eu fui obrigada a estudar o som nos últimos tempos e, ao contrário deste blog, o som é apenas capaz de registrar aquilo que se movimenta. No caso do rádio, é possível transmitir os passos de alguém, a decolagem de um avião ou o estouro de uma manada de búfalos. Mas não é possível tocar o som de uma pedra, uma cadeira ou uma pessoa parada em uma esquina. Uma das idéias que eu coloco na minha monografia in progress (que não é nem de perto o ponto central, mas não convém ficar por aí desperdiçando idéias) é que este é um dos pontos de aproximação entre rádio e jornalismo, já que o jornalismo também se ocupa apenas de acontecimentos e não de situações permanentes.

Mas, reconheço, isso não interessa a ninguém. O que pode interessar são as pequenas coisas com as quais venho me deparando nesse mergulho no universo do som (todas pedem um fone de ouvido, ou não tem graça nenhuma). Muitos já devem conhecer o corte de cabelo virtual, que, em todas as audições que eu já presenciei, provocou risos, arrepios e admiração. Aqui, aqui e aqui há uma série de ilusões sonoras bastante curiosas que pregam peças no seu, no meu, nos nossos cérebros constantemente buscando reconhecer o mundo. Em um site para turistas de Hong Kong, gravações registram os sons da cidade, como os do mercado público ou um restaurante típico. Por fim, minha mãe me enviou esses dias um e-mail falando do Órgão do Mar, na Croácia. A administração local quis promover algumas intervenções no espaçu público e criou este órgão natural controlado pelas ondas do mar. Não é Bach, mas ganha na paisagem.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Também os peixes

Eu sempre detestei aquários. Porque são cruéis, acima de tudo. Mas também porque são parados. Especialmente os peixes que já moraram na minha casa passavam a vida se escondendo dentro de conchas, mini-navios, troncos e aqueles inexplicáveis brinquedos para peixes (eles brincam?). Então o máximo de ação eram as bolhas de ar. Eu achei que, na categoria de seres vivos que mantemos sob nosso domínio, nada poderia ser tão entediante quanto isso. A planta apareceu para provar o contrário.

General Franco

Essa situação toda me lembra uma histórinha que o professor Canali (vulgo Geraldo-ganhei-um-milhão-processando-a-Band-Canali) contou em aula. Quando, em 1975, na Espanha, Francisco Franco estava moribundo em um hospital de Madrid, os jornais de rádio transmitiam, quase de hora em hora, um boletim médico no qual nem as vírgulas mudavam de lugar. Lia algo como "a junta médica lamenta informar que o estado de saúde do general Franco permanece inalterado". Penso em programar postagens automáticas com o texto "lamento informar que o estado da planta segue inalterado" para os próximos dois meses ou algo assim, quando talvez o inverno derrube ou seque algumas folhas.

domingo, 11 de maio de 2008

Pelas tabelas

Tudo igual com a planta. Talvez ela não rendesse um diário no final das contas. Espero que hoje ela cresça, murche ou tente se matar.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Diz o dito popular

Hoje conversei com a planta, na esperança de que a crença popular tenha certo fundamento e ela reaja de alguma forma. Qualquer forma.

Ok, minto. Na verdade eu conversei com um dos meus cachorros porque isso me parece menos idiota. Mas eu estava bem ao lado da planta e até olhava para ela de vez em quando. Também, que se dane. Se ela corresse até o portão, me olhasse com olhos pidões e me acompanhasse até a porta se enosando nos meus pés, até batia um papo. Mas cada um com o que lhe cabe.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nada a declarar

A planta segue exatamente igual. Mesmo que seja uma vitória ela ainda não ter morrido, eu esperava mais . Infinitamente mais produtivo seria eu ter começado um jardim como este, que me foi apresentado tempos atrás pelo Leo Ponso. Queria ver ficar sem assunto.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Filosofia a essa hora da manhã?

Enquanto a planta segue sua existência sem alarde, eu segui no devaneio sobre ciborgues e máquinas. Talvez tenha sido Marshall McLuhan (quem se importa?) que definiu a tecnologia como extensão do homem. Ele se referia ao universo simbólico do humano, algo mais no sentido do gravador de som permitir ao homem estar presente no outro lado do mundo por meio da sua voz, mas como eu já posso estar trocando o nome do sujeito mesmo, me permito distorcer a idéia para pensar a tecnologia como extensão física. Como se a tecnologia fosse apenas uma forma de fazer aquilo que nosso corpo não permite, seja com um foguete para dar uma volta na lua, um barco para atravessar um oceano ou um simples óculos escuros para caminhar ao sol sem franzir a testa. Na prática, não muda nada, e a tecnologia poderá continuar sendo usada para o bem ou para o mal. Essa visão apenas nos aproxima da nossa criação, o que pode ser ruim ao levar a uma confusão geral entre o que é homem e o que é máquina; ou pode ser bom, tirando a tecnologia do pedestal que hoje ela parece ocupar e devolvendo ao homem o poder de decisão sobre o que as máquinas fazem do mundo.

Como eu não sou autoridade em nada (é o que se ganha sendo jornalista, os famosos mestres de porra nenhuma), cito Aldous Huxley, que se não entendia do assunto, pelo menos inventava bem, e disse que o progresso tecnológico apenas criou formas mais eficientes para retrocedermos. É, eu sei, contraria o que eu disse, é o outro mal de jornalista: ir atrás do contraponto. Se eu fosse concordar comigo, tinha citado o all-time favorite escritor de Miss, Saint-Exupery, que disse que a tecnologia não isola o homem da natureza. Mas tem que ver que esse é um cara que viu no avião e no liquidificador as grandes invenções do seu tempo e morreu um ano antes da primeira bomba atômica explodir.

Delírios à parte, preciso ir lá regar minha planta que, vejam que atraso, precisa de água para viver.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Nada escapa à era eletrônica

A Cris Stereoplásticos Teixeira me apresentou outra opção de planta (provavelmente desconfiada da minha capacidade de cuidar dessa) que se classifica dentro do que ela chamou de "jardinagem clubber" e não poderia haver termo melhor. A planta eletrônica vem com sensores digitais que indicam níveis de temperatura, água e oxigênio para que o leigo atrapalhado não afogue nem torre sua plantinha. A princípio eu fiquei meio com o pé atrás com essa tecnologia toda, mas depois fiquei pensando que, se é para ser assim, já podia colocar ali um relógio, uma caixinha de som e um cubo mágico.

Encontrado aqui, idéia deles

Forçando um pouco a barra - mas nem tanto - poderia dizer que o espécime aí de cima não deixa de ser uma planta ciborgue, que integra um mecanismo tecnológico a um corpo biológico. Aliás, lembro das aulas de Cibercultura nas quais o ciborgue era um personagem tão presente que era como se fosse um colega de classe (o Ciborgue levanta o dedo e pede para ir ao banheiro), e a discussão mais em pauta era até que ponto a gente aceitaria ser máquina. Poucos recusariam uma prótese de braço ou perna, mas havia quem torcesse o nariz para a possibilidade de pele sintética ou órgãos de plástico. Eu nunca me incomodei muito. Forçando a barra - mas nem tanto - se alguém que destroça os ossos do pulso é recauchutado com pinos de titânio, porque um hemofílico não deveria substituir seu sangue por um artificial, se pudesse?

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Como sobreviver à vida

A planta parece resistir bem a frio, chuva e ciclones. Aliás, nesse sentido, ela deve ser melhor companhia que eu, já que não pode reclamar da raiva que São Pedro despeja sobre nós (e eu nem vou entrar nessa agora porque tá abrindo um solzinho lá fora e não é bom cutucar o santo). Não apenas o clima não abala a planta, como também os acontecimento globais passam batidos para ela. De certa forma, me reconforta saber que logo ali no meu pátio há uma criatura que, alheia à loucura de um austríaco, à morte de uma criança e às eleições norte-americanas, se ocupa apenas em existir e respirar. Deve ser mais ou menos essa simplicidade que se busca na meditação. Mas eu não saberia dizer, deixo a questão para os iogues.

domingo, 4 de maio de 2008

Os homens tais as coisas

No caminho inverso, lembrei de quando emprestamos às pessoas características de seres inanimados. Influenciada pela presença da planta entre os meus atuais problemas, lembrei dos clichês olhos de jabuticaba, da pele macia como um pêssego ou a voz de taquara rachada. Mas exemplos com animais também existem aos montes. Talvez, ainda, com objetos, como a leveza de uma pluma, a burrice de uma porta ou a velocidade de um trem. Se essas figuras de linguagem (comparação por símile, me diz a wikipedia) nascem das nossas referências mais próximas, talvez no futuro a gente leia romances nos quais os personagens serão altos como arranha-céus, inquietos como celulares ou confusos como o trânsito de São Paulo. Para não dizer que não falei de flores, a planta segue exatamente igual.
Mas as fotos não param de piorar

sábado, 3 de maio de 2008

Tenho um rosto, logo existo

Apesar de me dar conta que o apego só atinge animais, não troquei o vaso. Quem mesmo disse que o homem é um animal social? É engraçado como tendemos a projetar emoções humanas em tudo que nos cerca. Além de ser o único animal que está sempre automaticamente buscando formas humanas em todas imagens que bate o olho – galhos de árvores, nuvens, desenhos abstratos – o homem concede alma a qualquer coisa que possua uma mínima semelhança a ele mesmo. É o que nos permite gostar do Mickey Mouse e ter pavor a ratos (Mickey foi meticulosamente desenhado com a cabeça grande demais para o corpo e olhos grandes em relação ao rosto para que tivesse sobre nós o mesmo encanto causado por bebês), o que fez Tom Hanks construir uma amizade com uma bola de vôlei com rosto, o que fazia com que eu e meus irmãos adorássemos um ser de pelúcia que não parecia animal algum: era apenas um bola com longos pêlos nos quais estavam grudados olhos, nariz e boca de lâminas de plástico. É de se perguntar como, mesmo dotados dessa generosidade em humanizar aquilo que nos toca, somos capazes de tratar tantos seres humanos, tão humanos quanto nós, como coisas, bichos ou números em estatísticas. Sorte têm os personagens da Disney.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O primeiro impasse

Nada de novo com a planta. Penso em trocar ela de vaso, mas não sei até que ponto plantas são como cães e se apegam aos donos, ou são como gatos e se apegam às casas.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Um pouco supersticioso, quem não é?

De anteontem para ontem sonhei que estava em uma sessão de terapia. Do divã (dizem que se leva anos para chegar ao estágio do divã, é uma das belezas dos sonhos poder passar por cima de burocracias psicanalíticas), eu apenas ouvia a voz do meu suposto terapeuta.

- Tu cuidas de alguém? – ele falava um português muito correto.
- Como assim? – eu questiono meu subconsciente mesmo quando ele que está no comando
- Cuidas de alguém? Alguém precisa de ti?
- Para sobreviver? Acho que não.
- Deverias ter uma planta.
- Uma planta?
- É saudável ter um ser vivo que dependa de nós.

Eu discordei no sonho e discordaria acordada. Mas quando horas depois eu passava por uma floricultura na Protásio Alves e um sujeito muito alto com um vasto bigode perguntou “A moça não quer uma flor?” eu me senti obrigada a parar. Não quis a flor, mas voltei para casa com uma planta em um vaso feio. Assim, este blog nasce para acompanhar o crescimento de um vegetal.
No caso, este acima (mal) retratado