segunda-feira, 30 de junho de 2008

Who watches the watchmen?

Achei que eu devia explicar porque este blog anda fugindo do assunto. Acontece que a planta está meio que igual ao dia em que chegou aqui. E Violeta não vai muito bem e eu tento evitar o problema. Algumas flores murcharam, o que talvez seja até normal porque, até onde eu sei, plantas não costumam florescer o tempo todo (deus meu, quando eu achei que poderia cuidar de um ser vivo que não se comunica?). Ainda assim, eu fiquei arrasada, morta de preocupação e frustradíssima. Não se de onde eu tirei a idéia de que ter uma planta seria legal.

Mas hoje percebi que as flores que pegam sol estão melhores que aquelas que ficam no lado oposto à janela. Não que isso me deixe alegre, mas pelo menos eu começo a entender porque algumas flores estão morrendo e entender aquilo que nos entristece sempre nos faz sentir menos imbecis diante do que não podemos controlar. Esta história é uma bonita investigação sobre nosso desejo de compreender as coisas. É uma reportagem longuíssima (mas que vale cada palavra) sobre um programa de TV sensacionalista americano que criava armadilhas para pedófilos e filmava o momento da prisão deles.

Em resumo, quando um respeitado advogado e funcionário da Justiça é o alvo da vez, depois de manter conversas pornográficas por chat com um ator contratado pela produção para se passar por um garoto adolescente, a situação sai do controle. Via de regra, os atores deveriam atrair o pedófilo para uma casa alugada pelo programa, onde o apresentador confrontava o homem que logo depois era levado pela polícia. Mas este sujeito não foi ao encontro e então as equipes de filmagens foram à casa dele. Após uma desorganizada ação policial, toma-se a decisão de entrar na casa do criminoso. Ele então se suicida com um tiro na cabeça em frente à equipe da SWAT.

Investigações posteriores mostraram que o diálogo com o ator fora o primeiro desta espécie que o advogado participara. A promotoria concluiu que o caso era fraco e nem poderia ir a julgamento por inconsistências técnicas. Mas o que mais pesa na história são os parentes e amigos do tal advogado buscando explicações para o envolvimento dele com um adolescente. Nenhum deles pôde aceitar o fato de que foram próximos e foram queridos e queriam bem a um pedófilo. Nenhum deles pôde compreender como um criminoso podia ser tão gentil, competente no trabalho e boa companhia. Eu também não consigo imaginar os conflitos internos e demônios que um sujeito como esse enfrenta durante toda a vida. E não entendo a falta de conflitos internos que levam produtores de TV a submeter alguém - mesmo que um criminoso - a esse tipo de exposição sem critério.

domingo, 29 de junho de 2008

Se eu ganhasse um real para cada vez...

Tem coisas que eu não passo uma semana sem ouvir. Geralmente são perguntas, tipo:

Como assim tu não gosta de refrigerante?
essa deve ser a frase que eu mais ouvi em toda a minha vida.

Tem outras bem freqüentes também:
Já te disseram que tu tem um olhar blasé?
Tu tem mesmo cara de jornalista.
Nossa, tu tem muitas sardinhas.
Já viu como teu olho fica verde no sol?
Como teu pé é pequeno!

O que me impressiona mais que o número de vezes que eu ouço essas coisas é o tom de voz que as pessoas usam para me dizer. É como se estivessem me contando uma novidade. Eu fico meio sem saber que reação apresentar que não decepcione, porque o portador da notícia sempre fica me fitando com aqueles olhinhos de quem espera reconhecimento pela descoberta e eu até me sinto tentada a dizer "Mentira! Eu tenho sardas?", mas a verdade é que eu convivo comigo há 23 anos ininterruptos e sei até quando aparece uma pinta nova.

Não que seja impossível alguém apontar algo de novo. Só fui saber que eu tinha um nariz grande, por exemplo, quando tinha uns 11 anos e minha avó me olhou e proferiu "Essa tem o nariz dos Viccari". Eu não fazia idéia do que isso queria dizer e fui até o espelho mais próximo. Taí, tenho o nariz dos Viccari.

Mas aí tem esse lance de "cara de jornalista". Sabe, eu não entendo o que isso quer dizer. Porque tem coisas que, ok, entregam uma pessoa. Se a figura tem cabelo mal cortado, barba e um all star velho, tem cara de quem faz sociais na Ufrgs. Se usa uma jaquetinha da adidas, um all star novo e um acessório descolado, tem cara de publicitário. Se veste uma camiseta do Che Guevara e está dentro do D43, tem cara de integrante da UNE. Mas não é como se eu andasse com um gravador pendurado no pescoço ou pedisse referências quando conheço alguém, o que até podia ser boa idéia.

- Oi, tudo bem, eu sou o João
- Oi, prazer, tem release e foto em alta?

Mas não é o caso, então eu realmente não entendo.

Tem também as frases que eu preciso dizer seguidamente. Além da óbvia "É, não gosto de refri", tem a evolução do diálogo que chega em "Não, eu tenho celulite mesmo assim" (é estranha a naturalidade com que as pessoas perguntam a respeito da pele da tua bunda quando tu diz que não toma refrigerante). Também passam a vida me pedindo fogo e, portanto, eu passo a vida respondendo "Não, eu não fumo". Bastaria dizer "não", eu sei, mas como bem apontou a Karine dia desses, eu sou o tipo de pessoa que dá explicações desnecessárias a estranhos. O que é irônico, considerando que eu detesto que me cobrem satisfações.

Lembrei de tudo isso porque não faz muito tempo anunciei para um amigo "Bah, tu é canhoto!", e ele me olhou com aquela cara de "Não brinca?". Além, é claro, de, apenas nesse fim de semana, uma pessoa me chamar de blasé, outra de estereótipo de jornalista, um amigo me oferecer um copo de coca-cola e eu avisar o taxista "Depois do orelhão, ali atrás daquele monte de plantas tem uma casa". Taxistas nunca vêem a minha casa.

A pressa é a inimiga do teaser

Esqueçam a festa com Dylan e Hendrix. Quer dizer, ela vai acontecer ainda caso alguém tenha se interessado pela proposta mas não vai ter nada a ver com nós, formandos, porque subiu o preço e o promotor era um bolha e decidimos fazer nossa própria festa do jeito que a gente quiser.

Mas isso serve para mostrar como a mera possibilidade de publicação instantânea nos faz sentir na obrigação de ser instantâneos. Eu podia ter esperado para divulgar a festa, mas o blog tava aí dando sopa e vim colocar a informação no ar assim que a recebi. Como isso aqui não se propõe a ser um espaço jornalístico e não tem pacto de credibilidade com ninguém, não chego a sentir nenhum remorso em me desdizer.

Só que essa pressa em dar a informação me parece criar algumas coisas sem sentido de vez em quando. Esses dias li na Folha Online uma notícia sobre algo que não me lembro envolvendo alguém que tampouco lembro, mas o que eu lembro é que o texto terminava dizendo que a reportagem tentaria entrar em contato com a tal pessoa para maiores esclarecimentos. Aí eu me pergunto qual a vantagem de dar uma notícia pela metade ao invés de falar com o fulano e publicar depois? Porque não era nada bombástico, não era como o Feijó liberando as gravações com um crápula do alto escalão que tu transmite na hora mesmo que não se entenda muita coisa e depois espera pela transcrição. Era alguma coisa bem cotidiana, tanto que eu nem fui olhar depois o que a pessoa tinha a dizer a respeito porque realmente não fazia diferença na vida de ninguém. Acho que andamos afobados demais por coisas de menos.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A gente cria as plantas pro mundo

Apesar de certo medo em me tornar a "menina da planta", fiquei muito feliz em receber esta tirinha de dois amigos. Fica registrado o meu apreço. Registre o seu apreço também visitando o blog do Rodrigo, que, quando dá na telha, publica seus etéreos poemas e o blog do Marcelo, um maluco na Alemanha que, quase todo dia, publica seus mais que divertidos relatos na terra das batatas. E com vocês, a vida como ela é:

mais tirinhas do mesmo autor aqui

Então,

não que os espirros tenham passado, mas lembrei de entrar na onda publicitária e deixar aqui um teaser.

O que eu posso dizer por enquanto é que dia 4 de julho, enquanto os norte-americanos comemoram o independence day, nós estaremos aqui comemorando o fim das amarras universitárias (e torcendo para que os extraterrestres explodam a Casa Branca, mas isso não vem ao caso).

A disputada celebração vai ser no Manara, com shows de bandas covers de Bob Dylan e Jimi Hendrix e festa na seqüência. Aí você me pergunta "Manara?", e eu digo "ora, ora, não me faça essa cara de quem nunca dançou um forró no domingo". E você continua "Mas Bob Dylan não é triste?" e eu respondo "vá ouvir Like a Rolling Stone. E Subterrenean Homesick Blues, essa é ótima. E Mozambique, dá vontade de ir correndo pro aeroporto". E então você, muito resistente, pergunta "Hendrix?" e olha, nessa eu não sei muito bem o que dizer a respeito, mas se o Jimi-cover for vestido à caráter já tá valendo, não é, não?

De todo modo, se apesar de toda evidência em contrário, você, homem de pouca fé, ainda acha que essa festa não vai ser o evento do ano, saiba que todos os formandos estarão lá e se nós já nos divertimos loucamente num sábado às 8 da manhã tirando fotos vestidos como pingüins, imagine o que faremos quando colocarem a dose dupla de cerveja na nossa mão.

O quê: o evento do ano
Atrações: Dylan, Hendrix, dose dupla até a 1h, formandos em roupas civis
Quando: 4 de julho
Onde: Manara, na Goethe
Quanto: 6 reais com o formando de sua preferência + 6 reais para os sanguessugas do Manara
Onde comprar: essa é a parte que fica para depois caracterizando tudo isso como um teaser. Ah, não é assim que funciona? Desculpe, os publicitários estão na sala ao lado.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Saúde

Voltarei a postar assim que passar minha crise de espirros.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Hey, peruanos, eu não roubei 300 pilas de vocês

Tudo começou em 2006 quando eu voltei ao Brasil e comecei a receber faturas de cartão de crédito que não faziam sentido algum. Vinha algo como "valor desta fatura: R$ 500,00" e, depois, "total a pagar: R$ 0,00". Ainda que o total fosse zero, a coisa me deixou meio cabreira e fui buscar explicações.

Precisou que umas cinco pessoas me atendessem até chegar a alguém que sabia o que era aquilo. Era apenas um demonstrativo, me disse a moça. Eu explicaria o que isso significa, mas tchê, é um negócio chato, complicado e demorado, então vocês não perdem nada em não saber. Importa que eu podia simplesmente ignorar as faturas. Mas aí a moça simpática aproveitou para dar uma olhada na fatura do mês seguinte, que eu ainda não tinha recebido, só pra ver se estava tudo certo.

Agora vou fazer um elogio à minha agência do BB e olha que ninguém me paga pra isso. A moça foi olhar o mês seguinte totalmente partindo da bondade do seu coração, porque não tinha motivo algum pra isso. Além dela, todos já tinham me tratado como se eu fosse uma cliente importante e não a pé rapada que eu de fato sou. Mas mais notável: falar com eles é como falar com seres humanos. De alguma maneira eles conseguiram não se tornar as máquinas que geralmente compõem as equipes de bancários, atendentes de call centers e assemelhados. Eles são o tipo de pessoa para quem você diz “já viu como aquela placa ali tem escrito ‘não corra na escada’, mas a imagem parece dizer ‘escorregue pelo corrimão’?” e a resposta é “sabe que eu já notei, fica engraçado, né” e a placa é, de fato, engraçada. Então fica o toque: agência Petrópolis, na Protásio Alves.

Mas voltando à fatura do mês seguinte: constava um saque que eu não tinha feito. Em Nazca, no Peru, fui sacar 500 soles e deu erro, mas o banco registrou igual e aí estavam me cobrando isso, que equivale a uns 340 reais. Então eu tinha acabado de gastar todo meu dinheiro, estava de volta ao Brasil com 17 centavos na conta e uma dívida de um saque que eu não tinha feito que ultrapassava o limite de 200 reais do cartão de crédito que eu não tinha. Ah, sim, porque ainda tem essa nuance bizarra na história: eu NUNCA tive um cartão de crédito.

Pois bem, sabe aquela calma que só o desespero dá? Como eu não tinha um puto mesmo, que me cobrassem o que quisessem, iam me tirar o quê? Mas eu pretendia manter a conta no banco, aí seria legal não ter uma dívida, ainda mais uma que não me pertencia. Como a moça simpática estava do meu lado - ela que tinha percebido que aquilo não podia estar certo - eu resolvi brigar com a corporação do cartão de crédito. Lá se foi uma contestação pra empresa (o setor de cartões do Banco do Brasil é separado do banco em si, então não podia a moça apagar aquilo direto). Deu um tempo e eu continuava recebendo as faturas. Lá foi outra contestação. Deu um tempo e supostamente a coisa se resolveu. As faturas continuaram vindo e eu simplesmente jogava fora, porque os contornos surreais continuam.

Ninguém do Banco do Brasil entende essas faturas. Ainda que elas, inegavelmente, existam, quando os funcionários do banco entram no sistema e buscam meu saldo no cartão de crédito ele está zerado (tem até 45 centavos sobrando, porque algum dia eu rateei e paguei mais do que devia e logo depois cancelei o cartão). Ou seja, em algum sistema eu tenho 45 centavos, mas em algum sistema eu devo quase 400 reais contando os juros. Ou seja, oi?

Aí fui semana passada atualizar meu cadastro e aproveitei pra retomar o conto do cartão de crédito. Fui atendida por um funcionário que não trabalhava lá na época do rolo dos soles, mas bastou ele chamar um seu superior que ele me reconheceu assim que ouviu as palavras "problema com saque no exterior". E aí foi quase festa, eles lembravam de mim, eu lembrava deles, tinha sido mesmo uma coisa sem explicação aquilo tudo e rimos muito do fato de que eu devia 300 reais. Em retrospectiva, eu entendo que eles riam, mas me pergunto qual a graça que há nisso para mim.

Eu só queria parar de receber as faturas porque, né, desperdício de papel. Então lá se foi uma mensagem explicando a coisa toda para o Resolve, um serviço qualquer interno do banco. Não sei porque eu vim contar tudo isso aqui. Acho que foi só para dizer que é a primeira vez que eu tenho um problema burocrático em Brasília. Deve ser a isso que chamam amadurecimento. Ou isso, ou as horas que eu gastei tamborilando os dedos numa mesa tentando resolver um problema que foi injustamente jogado no meu colo sendo que não muito tempo atrás eu podia jogar no colo dos outros os problemas que eu de fato criava.

Desculpe, acho que deixei a cabeça na outra bolsa

Adoro bolsas com muitas divisões. Bolsas externas, bolsinhos internos, separação para celular, para documentos, é tudo tão bem pensado e útil que não me surpreenderia se houvesse profissionais especialmente qualificados para pensar onde deve ficar o bolso com zíper em relação ao bolso com botão. Mas a coisa toda perde um pouco do sentido quando você joga a carteira em qualquer lugar, enche a divisão mais acessível com recibos antigos de visa electron, perde a identidade no bolso escondido, deixa as chaves de casa no bolso do celular e o celular em casa. Sério, não sei por que eu simplesmente não uso uma sacola de super.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sempre leia o manual

Depois que o Luís Felipe levantou a questão, eu realmente fiquei em absoluto espanto comigo mesma e fui consultar o oráculo a respeito das violetas. Aparentemente, elas são provenientes das montanhas de Tanger, na África do Norte. Pomposo, não? Quase marroquinas. Além disso:

As raízes da violeta são muito sensíveis, sendo importante que a terra usada no plantio seja uma mistura de boa qualidade. Recomenda-se um pH em torno de 5,5 até 6,5. A violeta necessita de vários elementos químicos. A parte básica da adubação são os macronutrientes: Nitrogênio, Fósforo e Potássio. A temperatura ambiente é aceitável até um mínimo de 18 graus centígrados.

Como isso tudo só pode ser piada (de onde essa gente espera que eu tire nitrogênio?) resolvi fazer meu próprio manual de jardinagem.

"As raízes da violeta são muito sensíveis, sendo importante que você não as ofenda nem faça piadas de mau gosto na sua frente. Recomenda-se ignorar o pH da terra, já que a única coisa da qual você conhece o pH são os sabonetes Dove e eles não devem ser bom adubo. A violeta necessita de vários elementos químicos. Atenha-se aos leves ou ela pode sofrer alucinações. A temperatura ambiente é aceitável até um mínimo de 18 graus, o que significa que Porto Alegre é uma cidade habitada totalmente por gênios da biologia que estão há décadas criando violetas que sobrevivem ao nosso inverno polar."

Então é isso aí. Água duas vezes por semana no verão, uma no inverno. E a internet é um saco e só serve para você perceber a quantidade de coisas que você não sabe.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O problema com a memória seletiva

Hoje, Violeta amanheceu com algumas flores murchas. Eu fiz o que pude: me senti um fracasso, me repreendi mentalmente e fui tomar uma cerveja. Não, minto. Eu me senti um fracasso, me repreendi mentalmente, ajeitei ela mais ao sol e dei água. O que acontece é que por funções cerebrais que jamais entenderei eu esqueci o quanto de água deveria colocar na terra por dia. Tenho vontade de investigar a questão (do esquecimento, não da planta) com Ivan Izquierdo, mas ele deve estar ocupado dando alguma entrevista, já que é fonte para 10 entre 10 matérias sobre memória no País. Mas divago. Foi assim:

Lembro que eu estava na portaria da Fabico saindo da aula de Comunicação Alternativa e conversando com a Fafá. Ela disse que tinha lido o blog e que para cuidar de uma violeta se deveria dar uma quantidade tal de água dia sim, dia não. Lembro que eu estava ao lado da balcão, ela estava à minha esquerda. Lembro que a professora apareceu para largar a chave da sala. Lembro que ela queria saber onde tinha um Unibanco, lembro até da piada sem graça que eu larguei – pô, professora, depois de uma aula sobre internet tu pergunta para gente ao invés de ir nos site do Unibanco? E ela disse que não costumava pesquisar coisas na internet, o que, pensando agora, não faz muito sentido porque que espécie de pessoa não corre ao Google quando tem uma dúvida, mas, novamente, divago.

Lembro que tem um Unibanco na Venâncio Aires, lembro que a Fafá foi embora para o Dmae, lembro que eu liguei para minha mãe para saber se ela queria que eu comprasse comida antes de ir pra casa, mas nem precisava porque meu pai já estava no super. Lembro que almoçamos lasanha de quatro queijos, lembro até que as bordas queimaram e tivemos que comer só a parte do meio e minha mãe comeu pouco porque o antinflamatório que ela estava tomando causava enjôo. Enfim, eu poderia continuar com uma infinidade de fatos daquele dia, o ponto é que esqueci justamente a única informação relevante que eu deveria ter registrado.

Update: perguntei ao Google. Eis que o meu esquecimento é uma falha na memória declarativa, aquela que registra eventos pontuais (ao contrário da memória de procedimentos, que é a que nos permite lembrar como se dirige, por exemplo). Agora, essas falhas costumam acontecer quando as sinapses estão inibidas, o que, por sua vez, ocorre devido à estimulação excessiva, doenças degenerativas, isquemias ou traumatismos cranianos. Como eu não passei por nenhuma dessas coisas, penso que há algo de errado ou com a teoria do Sr. Ivan, ou com o meu cérebro. Temo um pouco pela resposta.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Com sua licença

Talvez eu passe uns dias ausente. É que estarei ocupada vivendo.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Responsabilidade ecológica

Nunca imprimi tantas folhas na vida. Desde 2005 eu tinha um pacote de Chamex que até pouco tempo atrás ainda era consistente o bastante para parar em pé. No último mês ele foi minguando até restar quase nada. Eram 500 folhas. Como ele não estava cheio e ainda restam algumas, calculo que se tenham ido umas 300. Como ainda vou imprimir uma cópia para revisão daquela coisa da qual já me libertei emocionalmente, e depois tenho que imprimir três cópias finalizadas pra banca e mais uma pra mim, já vão mais quase 400. Como além disso ainda teve as folhas recicladas que não saíram do pacote Chamex, chuto que tenha usado quase mil folhas. É muita folha.

Todo essa estimativa foi para descobrir quantas árvores tiveram que morrer em nome de um trabalho limitadíssimo sobre a representação de Porto Alegre no radiojornalismo. Nem vou entrar no mérito de que haveria muitas coisas mais dignas pelas quais morrer, só levanto o problema porque não achei a resposta. Como acontece com tudo na internet, há informações contraditórias. A mais disseminada é que um pinheiro rende cerca de 50 quilos de papel, mas fiquei meio desconfiada. Pensei em perguntar pra Chamex, mas eles têm o pior site da história e não tem nenhum telefone de SAC na embalagem. Não que eu pretenda plantar um pinheiro no pátio pra compensar, mas, sei lá, me sinto em dívida com uma árvore.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Um dia amish

7:30 – Você acorda e é um lindo dia de sol. Há 15 horas você está sem eletricidade, mas você vê nisso a linda possibilidade de se dedicar às suas plantas. Você começa pela violeta, mas cuidar de Violeta se resume a regá-la. No pátio, com a planta que tem sol e chuva, jardinagem se resume a fazer nada, que geralmente é o seu tipo preferido de jardinagem, mas você está de pé às sete e meia da manhã e não tem luz.

7:45 – Você pensa em aproveitar o tempo e fazer um belo café da manhã. Você coloca a caneca com leite no microondas e ele obviamente não liga. Mas tudo bem, você até se diverte com a sua patetice e olha como é engraçado, a gente nem se dá conta do quanto a eletricidade faz parte das nossas vidas, não é mesmo? Fica ainda mais engraçado quando você precisa lavar a leiteira na água gelada num horário que você normalmente não saberia dizer nem o seu próprio nome. Hilário.

7:50 – Você pensa em fazer o resumo da sua monografia, mas computadores tendem a não funcionar sem eletricidade. Você pensa em escanear as fotos que uma amiga precisa, mas veja só, scanners seguem a mesma tendência que computadores. Você vaga pela casa em busca de idéias. Diante do aquecedor de água à gás, você se ajoelha em agradecimento e vai tomar banho.

8:20 – Você é um gênio e como não pensou nisso antes? Você pega uma canga, um livro que está há horas esperando para ser lido, faz um chimarrão e ruma para a Redenção. Na porta, você lembra que a Dell ficou de ir na sua casa trocar um monitor.

8:40 – Você mantém a calma e começa uma lista mental de coisas para fazer sem eletricidade
*Dormir
*Conversar com a Violeta
*Alcançar o Nirvana

8:41 – Você percebe que
*Não está com sono
*Violeta não é muito comunicativa
*Alcançar o Nirvana deve ser meio demorado e você tem planos para o almoço

8:42 – Você está sozinho, em silêncio, no escuro, espremendo laranjas.

9:01 – Morto de tédio, você liga para a Dell, que iria à sua casa entre 9h e 12h, e pergunta se eles têm previsão de chegada, se dá para te colocar no topo da lista de atendimentos do técnico, se ele pode chegar tipo, de repente, quem sabe, agora?

9:05 – A Dell não compreende você.

9:06 – Numa vibe Scarlett O’Hara você pensa “nunca mais passarei fome”. Não, espera, não é isso. Você pensa “nada vai estragar o meu dia”, pega a máquina fotográfica e vai tirar fotos. Mas, evidente, a bateria acaba e você (como cansamos de reiterar) não tem luz. Você odeia a CEEE, amaldiçoa todos seus funcionários e pensa em se enforcar no fio de luz que, afinal, tá aí sem uso mesmo.

9:30 – Você lembra que, além de plantas incrivelmente paradas, tem três cachorros e o mundo é bonito de novo.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Uma longa história sobre um terçol

Já faz uns dez dias que estou com um terçol no olho direito. Por motivos obscuros, terçois volta e meia aparecem nos meus olhos desde... muitos anos atrás. A coisa piorou depois que um, ou alguns, meio que se alojaram na parte interna do olho em um cisto (eu não sei a explicação correta para isso, se ele se transformou em um cisto, se ele entrou em um cisto ou se o tal cisto apareceu do nada e eles fizeram amizade), e desde então os terçois neste olho ficaram mais freqüentes.

Obviamente, eu enchei o saco de passar tantas semanas da minha vida lavando os olhos com soro fisiológico e fui a uma oftalmologista para resolver o assunto. Mas quando ela fez a sugestão muito amável de virar minhas pálpebras do avesso, mantê-las abertas com instrumentos cirúrgicos que eu fiz questão de esquecer o nome e cavocar dentro dos meus olhos com objetos cortantes, eu achei que um terçol aqui, outro ali, nem me incomodavam tanto assim. Fui embora e nunca mais pisei numa clínica de oftalmologia.

A vida seguiu normalmente apesar de todo terrorismo que a médica tinha feito. Mas aí há uns dez dias surgiu esse terçol. Como de praxe, eu não fiz nada a respeito (depois de tratar umas dezenas de terçois com soro e/ou colírios eu descobri que também poderia não tratá-los que eles eventualmente desapareceriam por conta própria: infinitamente mais prático), mas como ele sequer diminuiu eu comecei a me preocupar.

Então comecei pelo tratamento mais fácil: compressas de água quente. Elas costumam surtir efeito em um ou dois dias, mas dessa vez não fizeram nem cócegas. Aí parti pro soro fisiológico, que costuma demorar mais para fazer algum efeito e aconteceu o que sempre acontecia, eu me entediei antes de qualquer resultado e larguei de mão. Então decidi apelar pro colírio, mas eu não tinha mais nenhum em casa (já faz anos que adotei o não-tratamento como tratamento oficial) e me recuso a gastar um centavo que seja em um negócio que, não apenas arde no olho, como se alastra por toda cavidade da cabeça e deixa um gosto amargo na garganta.

De novo, estava determinada a esperar passar. Mas como ontem dediquei todo meu dia às regras da ABNT (morra, ABNT), curar o terçol pareceu um objetivo grave o bastante para me tirar do trabalho mas menos chato que a formatação de índices. Esgotados todos os tratamentos humanos, resolvi colocar em prática aquele que eu sempre evitei: esfregar uma aliança e encostá-la no terçol. A idéia é que o calor mata a bactéria, mas o que ninguém diz, apesar de óbvio, é que isso também dói na pessoa atrás da bactéria. Mas entre brigar com meu word 2003 e superar uma fobia, bora lá queimar uma pálpebra.

Porém, eu não tenho uma aliança, tampouco meus pais têm alianças já que nunca casaram perante deus ou um oficial de justiça. Além disso, sou uma pessoa pobre e que perde as coisas por aí, motivos pelos quais seria incrivelmente idiota eu comprar jóias de ouro. Mas qualquer anel vai funcionar, certo? Errado. Nenhum dos meus anéis ficou quente mesmo depois de muita esfregação na calça jeans. Tentei deixar um tempo na frente da estufa. Nada. Até tenho um anel que um artesão certa vez me disse ser muito frágil e que, sob o mínimo calor, poderia derreter. Eu não acreditei muito, e pensei em tentar esquentar esse, mas aí me ocorreu que vá que fosse verdade, e se ele derretesse um pouco dentro do meu olho eu acabaria com um problema ainda maior. O que poderia ser bom caso me rendesse um atestado médico que prolongasse os prazos da monografia, mas poderia ser ruim caso, hm, me deixasse cega.

Diante da minha brutal incapacidade de resolver o problema, fiz a única coisa que me restava. Coloquei um Charly Garcia para tocar e tomei um café com bolachas. Se alguém aí souber uma simpatia para curar terçois, eu aceito muito uma sugestão. Desde que não envolva sangrar galinhas ou conversar com os mortos, tô dentro.

domingo, 8 de junho de 2008

Eterno retorno

Esses dias uma amiga que foi minha colega de Bom Conselho da pré-escola ao vestibular me mandou uma foto de quando tínhamos, sei lá, bem poucos anos de vida e estávamos apresentando uma música aos nossos pais no final do ano (ou no dia das mães, ou na páscoa, ou qualquer data do calendário cristão a que estávamos submetidos em um colégio franciscano). Pois bem, a música da minha turma era Abecedário da Xuxa. Cada criança ganhava uma letra para colar no peito e chamar de sua e, todos juntos, tínhamos uma coreografia para apresentar a música e no final formar a palavra Amor. Como mostra a foto, eu fui o R (de riacho).


Quando vi isso e me veio toda aquela onda de nostalgia, tive mais uma prova de como a vida caminha numa espiral. Àquela época, apesar de numerosos ensaios, tinha algumas letras que eu nunca lembrava que palavra começavam (como o C, o D e o M). Lembro de ter feito algum esforço para decorar, mas não tinha jeito, até que chegou um momento que eu já não tava mais nem aí e só queria subir no palco com a minha roupinha ridícula, sorrir para todo lado e receber as palmas no final. Pois bem, hoje eu sento diante dessa tela e já estou pouco me lixando para que filósofo alemão defendia que teoria e só quero subir no palco com a minha toga ridícula, sorrir para todo lado e receber meu diploma no final.

Aliás, não lembro de quem pegamos a máquina fotográfica emprestada, mas adoraria ver as fotos do nosso ensaio "poses casuais de toga" no pátio da Fabico.

sábado, 7 de junho de 2008

Mais um vídeo ruim do Caetano Veloso

Quando estava procurando os vídeos que citei dias atrás, encontrei também este com Esse Cara e Tatuagem. O resultado não é nada espetacular, mas vale pra ver o Chico Buarque vomitando palavras no começo e fazendo a maior cara de total incompreensão diante do baiano mais odara-tudo-é-muito-lindo que o mundo já viu. Afinal, antes de ser um senhor respeitável, o Leãozinho já vestiu calças verde-água e tentou seduzir Jorge Ben quando ele ainda era Jor. Não sei, não, assim você acaba não conquistando ninguém, Caetano.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Oscar para o Busatto

Melhor ator do Brasil. Como consegue ser tão cara de pau, meu deus, como consegue? Entrevista mais deprimente que eu já vi na vida. Vergonha de pertencer à mesma espécie que essa gente. Alguém, por favor, exploda o Piratini.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Nós, os robôs

As tirinhas do We The Robots são sempre ótimas, mas a de hoje tocou fundo:

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Take my arm, take my leg

Sempre gostei dos covers que Caetano Veloso engembra. Os primeiros que conheci foram do Fina Estampa, álbum que eu gosto desde criança. Com nove anos de idade, me deslumbrava a idéia de que uma música "de adulto" pudesse falar de um Crocodilo Verde. Anos depois conheci Fito Paez e descobri de onde vinha aquele Vestido y un amor tão bonitos.

Com o passar dos anos me afeiçoei (sempre quis usar essa palavra) a outras versões. Minha preferida do momento é Let it Bleed, original dos Stones que Caetano canta em um inglês charmosamente abaianado. Mas também gosto do bolero sofrido para Tu Me Acostumbraste, da baladinha que ele fez para Billie Jean, da deprê em que ele transformou Help. Acho linda essa Burn it Blue que não sei de quem é, nem de onde saiu, mas ele foi cantar para o filme Frida. Verdade que aquela Cucurrucucu Paloma do Fale com Ela me cansa um pouco e não vejo nada de bom na Come As You Are, mas, via de regra, gosto das interpretações dele para os outros.

O que tudo isso tem a ver com o jardim que esse blog registra? A princípio, nada. Mas se pesquisadores coreanos estiverem certos sobre o efeito de ópera sobre o crescimento de plantas, me pergunto qual será o efeito do Caetano na Violeta, já que ele tem sido o primeiro nas paradas do meu Windows Media Player. Mas vou ficar só no estágio de "me perguntar" porque nunca consideraria fazer o que esse sujeito está fazendo. Aliás, vou aproveitar o tempo que eu gastar me perguntando o que acontecerá com Violeta para já me perguntar também o que será que Vivaldi pensaria se soubesse que suas músicas estão sendo usadas por um religioso paranaense para ninar sementes de soja.

PS em letras miúdas de final de contrato: alguns vídeos são péssimos, mas estão aí para serem ouvidos, não vistos. Ainda que seja engraçado o Michael Jackson mandando ver no moon walk ao som de voz e violão.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Entra em cena a nova personagem

Ganhei uma violeta dos meus pais. Ao contrário da planta genérica, Violeta fica no meu quarto. Está aqui ao lado, e isso gera uma tremenda pressão. Porque a planta está lá na rua e ela e a natureza que se entendam na minha ausência. Violeta depende de mim completamente. Para ter água, para não ser morada de mosquitos da dengue, para ficar ao sol. Parece bobo - e realmente é - mas só o fato de uma folha ter caído quando tirei-a da embalagem me deixou à beira da neurose: a cada cinco minutos toco a terra para ver se está úmida ou seca demais. Não que eu saiba o "ponto" da terra. Eu não faço a mais vaga idéia de como a terra deveria estar, mas tenho uma imprecisa esperança de que se Violeta perceber que eu realmente me importo, ela vai sobreviver apesar de toda minha ignorância e falta de jeito. Em outras proporções, me parece mais ou menos o tratamento que, por vezes demais, damos ao amor. A gente não sabe muito bem como lidar com ele, e aí só resta esperar que o outro reconheça em nós o que sinceramente sentimos mas não sabemos traduzir em cuidados básicos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Quando a astrologia se impõe

Ironicamente, justo no dia do meu aniversário a astrologia me pegou de surpresa e veio provar que, apesar de toda evidência em contrário, às vezes a gente é muito do signo que é. Ontem dei uma de geminiana agindo da maneira mais signo de ar possível.

[Signos de ar: Gêmeos, Libra e Aquário. São os civilizados do Zodíaco. Têm a mente lógica e aberta a novas idéias. Às vezes você achará que eles não estão muito atentos às suas coisas, pois eles têm um aspecto de estarem permanentemente desligados. Fazem doze coisas ao mesmo tempo. Mudam de idéia com a mesma freqüência que respiram. Começam frases e não as]

Pois antes fosse apenas um aspecto desligado. Joguei fora o meu feijão. Ao arrumar o quarto, olhei para o copinho de plástico com algodão e imediatamente pensei "que raios? Que bagunça, que horror". Foi pro lixo. Tchau, feijão.

E como assim os civilizados do zodíaco?
Todos os outros são os selvagens do zodíaco?