sexta-feira, 20 de junho de 2008

Hey, peruanos, eu não roubei 300 pilas de vocês

Tudo começou em 2006 quando eu voltei ao Brasil e comecei a receber faturas de cartão de crédito que não faziam sentido algum. Vinha algo como "valor desta fatura: R$ 500,00" e, depois, "total a pagar: R$ 0,00". Ainda que o total fosse zero, a coisa me deixou meio cabreira e fui buscar explicações.

Precisou que umas cinco pessoas me atendessem até chegar a alguém que sabia o que era aquilo. Era apenas um demonstrativo, me disse a moça. Eu explicaria o que isso significa, mas tchê, é um negócio chato, complicado e demorado, então vocês não perdem nada em não saber. Importa que eu podia simplesmente ignorar as faturas. Mas aí a moça simpática aproveitou para dar uma olhada na fatura do mês seguinte, que eu ainda não tinha recebido, só pra ver se estava tudo certo.

Agora vou fazer um elogio à minha agência do BB e olha que ninguém me paga pra isso. A moça foi olhar o mês seguinte totalmente partindo da bondade do seu coração, porque não tinha motivo algum pra isso. Além dela, todos já tinham me tratado como se eu fosse uma cliente importante e não a pé rapada que eu de fato sou. Mas mais notável: falar com eles é como falar com seres humanos. De alguma maneira eles conseguiram não se tornar as máquinas que geralmente compõem as equipes de bancários, atendentes de call centers e assemelhados. Eles são o tipo de pessoa para quem você diz “já viu como aquela placa ali tem escrito ‘não corra na escada’, mas a imagem parece dizer ‘escorregue pelo corrimão’?” e a resposta é “sabe que eu já notei, fica engraçado, né” e a placa é, de fato, engraçada. Então fica o toque: agência Petrópolis, na Protásio Alves.

Mas voltando à fatura do mês seguinte: constava um saque que eu não tinha feito. Em Nazca, no Peru, fui sacar 500 soles e deu erro, mas o banco registrou igual e aí estavam me cobrando isso, que equivale a uns 340 reais. Então eu tinha acabado de gastar todo meu dinheiro, estava de volta ao Brasil com 17 centavos na conta e uma dívida de um saque que eu não tinha feito que ultrapassava o limite de 200 reais do cartão de crédito que eu não tinha. Ah, sim, porque ainda tem essa nuance bizarra na história: eu NUNCA tive um cartão de crédito.

Pois bem, sabe aquela calma que só o desespero dá? Como eu não tinha um puto mesmo, que me cobrassem o que quisessem, iam me tirar o quê? Mas eu pretendia manter a conta no banco, aí seria legal não ter uma dívida, ainda mais uma que não me pertencia. Como a moça simpática estava do meu lado - ela que tinha percebido que aquilo não podia estar certo - eu resolvi brigar com a corporação do cartão de crédito. Lá se foi uma contestação pra empresa (o setor de cartões do Banco do Brasil é separado do banco em si, então não podia a moça apagar aquilo direto). Deu um tempo e eu continuava recebendo as faturas. Lá foi outra contestação. Deu um tempo e supostamente a coisa se resolveu. As faturas continuaram vindo e eu simplesmente jogava fora, porque os contornos surreais continuam.

Ninguém do Banco do Brasil entende essas faturas. Ainda que elas, inegavelmente, existam, quando os funcionários do banco entram no sistema e buscam meu saldo no cartão de crédito ele está zerado (tem até 45 centavos sobrando, porque algum dia eu rateei e paguei mais do que devia e logo depois cancelei o cartão). Ou seja, em algum sistema eu tenho 45 centavos, mas em algum sistema eu devo quase 400 reais contando os juros. Ou seja, oi?

Aí fui semana passada atualizar meu cadastro e aproveitei pra retomar o conto do cartão de crédito. Fui atendida por um funcionário que não trabalhava lá na época do rolo dos soles, mas bastou ele chamar um seu superior que ele me reconheceu assim que ouviu as palavras "problema com saque no exterior". E aí foi quase festa, eles lembravam de mim, eu lembrava deles, tinha sido mesmo uma coisa sem explicação aquilo tudo e rimos muito do fato de que eu devia 300 reais. Em retrospectiva, eu entendo que eles riam, mas me pergunto qual a graça que há nisso para mim.

Eu só queria parar de receber as faturas porque, né, desperdício de papel. Então lá se foi uma mensagem explicando a coisa toda para o Resolve, um serviço qualquer interno do banco. Não sei porque eu vim contar tudo isso aqui. Acho que foi só para dizer que é a primeira vez que eu tenho um problema burocrático em Brasília. Deve ser a isso que chamam amadurecimento. Ou isso, ou as horas que eu gastei tamborilando os dedos numa mesa tentando resolver um problema que foi injustamente jogado no meu colo sendo que não muito tempo atrás eu podia jogar no colo dos outros os problemas que eu de fato criava.

4 comentários:

Anônimo disse...

eu ia achar mais legal se o amadurecimento fosse a ter problemas em Brasília, pois estaria salva. mas acho mesmo que é a segunda opção, para variar, muito bem definida pela senhora.

Anônimo disse...

putz! que hora pra tu contar isso, julinha!
os meus cartões visa e mastercard - que eu fiz especialmente pra viajar pq, obviamente, nunca tive mesmo, desde qdo chinelão que nem eu tem cartão? e não é pq eu tou viajando que deixei de sê-lo (até pelo contrário) - deviam ser debitados da minha conta mas não tão sendo...
mandei uns mails pro atendimento-qr-cousa do BB da UFRGS - q é uma zona! - e tenho sido solenemente ignorado.
ainda não tou no nível da calma do desespero, e espero não chegar lá. aliás, se pá vou pedir pra tu checar com os gente-boa da protásio o q q há, pq além daqui as cousas serem muito caras (à exceção de livros & cervejas - ô terra boa!), a conversão pra real dá uma mordida DESSE tamanho.
aiaiai... tou vendo que vou me incomodar...

Karine disse...

me recuerdo.

Julia Dantas disse...

valeu, emoly. mas eu tenho dúvidas, acho que burocracia deve ser a coisa mais próxima do inferno que já se fez na terra, então melhor não torcer por essa opção.

juchem, até onde sei, a cotação do bb é a oficial do dia, mas pode ser que eu saiba errado. manda tuas dúvidas por email que eu levo lá nos meus amigos. já marquei um cafezinho com eles essa semana.

karine, obrigação de lembrar, né? foram os 500 soles que eu gastei pra quase cuspir o estômago em cima da tua máquina fotográfica, hehehe