terça-feira, 22 de julho de 2008

Drexler ontem

Comentei lá no blog do CineSemana a apresentação do Drexler que vi ontem. Jorge (para os íntimos) entrou correndo no palco e, logo antes de sentar no seu banquinho, tropeçou no próprio violão. E a partir daí, os primeiros três segundos de show, ele tinha a platéia na mão. Há qualquer coisa de muito cativante em ver um homem de grande talento agir como um reles mortal. Não bastasse o tropeço, Drexler se enroscou nos fios da guitarra, se perdeu nas partituras, foi obrigado a catar os óculos do chão para enxergar uma letra do Vítor Ramil que não sabia de cor. São coisas que, por breves instantes, nos colocam no mesmo patamar que ele, e deve ser por isso que a platéia aplaudia a cada pequena demonstração de falha humana. Nós não sabemos compor, não sabemos cantar, não sabemos misturar eletrônico e milonga, mas também podemos ser bons em tropeçar e perder os óculos. É a única explicação que vejo para o fato de Jorge Drexler se tornar simpático em ser um desastrado, enquanto qualquer outra pessoa seria, apenas, um desengonçado.

Não que ele não mereça nosso afeto. Não bastasse a boa música, o sujeito é realmente simpático, bem humorado e tagarela. Eu levava fácil para uma mesa de bar ou um almoço em família. Se Vítor Ramil viesse de brinde, melhor ainda.

PS: Eu hesitei muito em comentar, porque me lembra a fatídica monografia, mas acho que está na hora de aceitar que Paisagens Sonoras para sempre farão parte do meu repertório de assuntos. Então que Jorge Drexler e sua excelente dupla de técnicos de som colecionam paisagens sonoras. Diz o uruguaio que eles têm o hábito de carregar um gravador no bolso. Muitas das músicas são pontuadas por barulhinhos diferentes (perceba a precisão na nomenclatura musical), e muitos deles saem dessas gravações feitas em cidades ao redor do mundo. Gostei da idéia, acho que vou adotar. Não sei ainda pra quê, já que estou a anos-luz de compor uma música, mas vai saber, um dia eu posso inventar um livro de sons, de repente.

2 comentários:

Unknown disse...

esses técnicos são atletas, além de bons músicos. eles passaram o show inteiro correndo do palco pra mesa de som, ali no meio da platéia alta, e vice-versa. a primeira vez que eles cruzaram nossa frente foi meio chato, era como se fossem MORTAIS chegando atrasado, mas depois ficou divertido. particularmente, considerei como parte do espetáculo.

Julia Dantas disse...

haahha, tu vê, nem me passou pela cabeça esse ponto de vista. deve ter sido divertido mesmo. e eles nem chegavam ofegantes no palco, né. devem ter treino.