Tem coisas que eu não passo uma semana sem ouvir. Geralmente são perguntas, tipo:
Como assim tu não gosta de refrigerante?
essa deve ser a frase que eu mais ouvi em toda a minha vida.
Tem outras bem freqüentes também:
Já te disseram que tu tem um olhar blasé?
Tu tem mesmo cara de jornalista.
Nossa, tu tem muitas sardinhas.
Já viu como teu olho fica verde no sol?
Como teu pé é pequeno!
O que me impressiona mais que o número de vezes que eu ouço essas coisas é o tom de voz que as pessoas usam para me dizer. É como se estivessem me contando uma novidade. Eu fico meio sem saber que reação apresentar que não decepcione, porque o portador da notícia sempre fica me fitando com aqueles olhinhos de quem espera reconhecimento pela descoberta e eu até me sinto tentada a dizer "Mentira! Eu tenho sardas?", mas a verdade é que eu convivo comigo há 23 anos ininterruptos e sei até quando aparece uma pinta nova.
Não que seja impossível alguém apontar algo de novo. Só fui saber que eu tinha um nariz grande, por exemplo, quando tinha uns 11 anos e minha avó me olhou e proferiu "Essa tem o nariz dos Viccari". Eu não fazia idéia do que isso queria dizer e fui até o espelho mais próximo. Taí, tenho o nariz dos Viccari.
Mas aí tem esse lance de "cara de jornalista". Sabe, eu não entendo o que isso quer dizer. Porque tem coisas que, ok, entregam uma pessoa. Se a figura tem cabelo mal cortado, barba e um all star velho, tem cara de quem faz sociais na Ufrgs. Se usa uma jaquetinha da adidas, um all star novo e um acessório descolado, tem cara de publicitário. Se veste uma camiseta do Che Guevara e está dentro do D43, tem cara de integrante da UNE. Mas não é como se eu andasse com um gravador pendurado no pescoço ou pedisse referências quando conheço alguém, o que até podia ser boa idéia.
- Oi, tudo bem, eu sou o João
- Oi, prazer, tem release e foto em alta?
Mas não é o caso, então eu realmente não entendo.
Tem também as frases que eu preciso dizer seguidamente. Além da óbvia "É, não gosto de refri", tem a evolução do diálogo que chega em "Não, eu tenho celulite mesmo assim" (é estranha a naturalidade com que as pessoas perguntam a respeito da pele da tua bunda quando tu diz que não toma refrigerante). Também passam a vida me pedindo fogo e, portanto, eu passo a vida respondendo "Não, eu não fumo". Bastaria dizer "não", eu sei, mas como bem apontou a Karine dia desses, eu sou o tipo de pessoa que dá explicações desnecessárias a estranhos. O que é irônico, considerando que eu detesto que me cobrem satisfações.
Lembrei de tudo isso porque não faz muito tempo anunciei para um amigo "Bah, tu é canhoto!", e ele me olhou com aquela cara de "Não brinca?". Além, é claro, de, apenas nesse fim de semana, uma pessoa me chamar de blasé, outra de estereótipo de jornalista, um amigo me oferecer um copo de coca-cola e eu avisar o taxista "Depois do orelhão, ali atrás daquele monte de plantas tem uma casa". Taxistas nunca vêem a minha casa.
domingo, 29 de junho de 2008
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7 comentários:
Desculpa.
Haha, não se desculpe. Eu não acho ruim, só acho curioso.
como assim, TU NÃO TOMA REFRI?
ok, foi só uma piada...
como podemos dar satisfações a estranhos e detestarmos cobranças? sério, NENHUM sentido.
béin, eu sei como tu te sentes, julinha. não comer queijo gera o tipo de pergunta "besta-óbvia" pedindo a confirmação. bom é embalar e contar uma baita mentira tipo uma promessa da infância, uma descoberta sobre uma fábrica de refrigerantes durante uma reportagem (já que, afinal, jornalista é investigativo, ou devia ser) ou as sardinhas que tu fez até uma plástica pra colocá-las porque acha charmososas - eu acho, aliás -, ou 'meu olho fica verde mais minha planta fica azul, tá lá no blog, olha'.
descobre mais umas perguntas dessas e contaí, guria!
bjão
eu não bebo...
existe algo que possa gerar mais conversas das do tipo citadas acima?
creo que no...
fazêoquê...
Eu sei o que é isso.
Eu também não gosto de refrigerante, nem nada com gás.
E o motivo é bem simples.
Queima minha língua!
Então assim como ninguém gosta de beber água fervendo, eu não gosto de refrigerante.
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