Escrevi no blog do
CineSemana o que achei de
Ensaio Sobre a Cegueira. Como escrevi lá, ainda não consigo dizer tudo que pensei sobre o filme. Em parte porque realmente há muito para assimilar, em parte porque há questões que só poderia discutir com alguém que também tenha visto e, em parte, porque existem coisas sobre as quais conseguimos pensar, mas não conseguimos falar.
É um bom filme. Excelente, talvez. Ainda não me decidi. É engraçado: logo depois da sessão comentei que quem acompanhava o
blog do Meirelles sobre a produção tinha um gostinho a mais ao assistir o filme por reconhecer nele decisões e conflitos que o diretor tinha apresentado no site. Mas agora começo a pensar que talvez seja o oposto. Quem lia o diário do Meirelles sabe da dificuldade que ele teve, por exemplo, em achar a medida da sujeira. Ele temia que as imagens ficassem repulsivas demais, mas também não queria fazer um filme limpinho para agradar Hollywood. Resultado que, até agora, eu também não sei dizer se achei o filme limpo demais ou na medida certa da exposição do imundo. Suspeito que se não tivesse acompanhado o processo de criação do diretor, eu nem estaria me perguntando isso agora.
É o lado ruim de ver o "como se faz" da arte. Não houvesse blog,
Ensaio Sobre a Cegueira teria chegado a mim como uma obra definitiva, acabada e imutável. Mas não, chegou como o estágio de um processo de criação que, de uma maneira ou de outra, me incluiu, ainda que eu fosse apenas observadora distante. E isso mudou a maneira como olhei para o filme. Como se toda a montanha de particularidades técnicas ainda pudessem ser discutidas, quando, na verdade, agora só podem ser avaliadas.
Não li o livro, então não posso dizer se a adaptação foi fiel. Mas posso dizer que o filme dá vontade de ler a obra do Saramago por conter tantas informações visuais que a gente fica se perguntando "como será que isso estava escrito?". Confesso que a cena final me intrigou tanto que hoje li a última página do livro. Gostei mais do filme. São coisas incomparáveis, filmes e livros, é claro. Mas que o Meirelles fez um trabalho muito, muito competente, não há dúvidas.