segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Reciclagem

Diogo me olha do alto de seu cigarro, sentado em cima da mesa de jantar, e balança as pernas, uma de cada vez, para frente e para trás. Ele inventa uma coceira na coxa direita para ter o que fazer com a mão e solta a fumaça pelo nariz. Parece um búfalo ao fazê-lo. Eu estou sentada no chão, à sua frente, e começo a fuçar entre os dedos do pé na esperança que dali surja algum assunto, como “veja, acho que peguei frieira na aula de natação”. Mas não há fungos, não há distração, apenas Diogo que me olha do alto de sua fumaça – o cigarro está amassado ao lado da coxa – sem conseguir decidir que reação me apresentar.

Começo de um texto que nunca finalizei. Na dúvida do que fazer com ele (terminá-lo parece tão irreal no momento), deixo aí para o caso de alguém querer continuar, mandar uma idéia, transformar num poema dadaísta, etc, etc, etc.

Puros de coração

Então que Daniel sempre sujará nosso nome, mas saio em defesa dos Dantas:

Vinicius explica que os Dantas são os puros de coração, os bem-intencionados. Os Parás, os que buscam o sucesso o nome é inspirado nos que vêm do Norte do país para vencer nas capitais do Sudeste. Onésimos, os sarcásticos, os extremamente críticos que, por isso, esfriam os ambientes com sua presença. Os Kernianos seriam os estourados. E os Mozarlescos, os românticos, aqueles que se enternecem com o luar de Paquetá. "Eu, por exemplo, sou um Mozarlesco", diz Vinicius no YouTube.

A matéria é da Bravo. O vídeo com o próprio Vinícius explicando é aqui.

domingo, 14 de setembro de 2008

Três Coroas

Tarsila do Amaral meets Buda, vai dizer?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Se podes ver, repara

Escrevi no blog do CineSemana o que achei de Ensaio Sobre a Cegueira. Como escrevi lá, ainda não consigo dizer tudo que pensei sobre o filme. Em parte porque realmente há muito para assimilar, em parte porque há questões que só poderia discutir com alguém que também tenha visto e, em parte, porque existem coisas sobre as quais conseguimos pensar, mas não conseguimos falar.

É um bom filme. Excelente, talvez. Ainda não me decidi. É engraçado: logo depois da sessão comentei que quem acompanhava o blog do Meirelles sobre a produção tinha um gostinho a mais ao assistir o filme por reconhecer nele decisões e conflitos que o diretor tinha apresentado no site. Mas agora começo a pensar que talvez seja o oposto. Quem lia o diário do Meirelles sabe da dificuldade que ele teve, por exemplo, em achar a medida da sujeira. Ele temia que as imagens ficassem repulsivas demais, mas também não queria fazer um filme limpinho para agradar Hollywood. Resultado que, até agora, eu também não sei dizer se achei o filme limpo demais ou na medida certa da exposição do imundo. Suspeito que se não tivesse acompanhado o processo de criação do diretor, eu nem estaria me perguntando isso agora.

É o lado ruim de ver o "como se faz" da arte. Não houvesse blog, Ensaio Sobre a Cegueira teria chegado a mim como uma obra definitiva, acabada e imutável. Mas não, chegou como o estágio de um processo de criação que, de uma maneira ou de outra, me incluiu, ainda que eu fosse apenas observadora distante. E isso mudou a maneira como olhei para o filme. Como se toda a montanha de particularidades técnicas ainda pudessem ser discutidas, quando, na verdade, agora só podem ser avaliadas.

Não li o livro, então não posso dizer se a adaptação foi fiel. Mas posso dizer que o filme dá vontade de ler a obra do Saramago por conter tantas informações visuais que a gente fica se perguntando "como será que isso estava escrito?". Confesso que a cena final me intrigou tanto que hoje li a última página do livro. Gostei mais do filme. São coisas incomparáveis, filmes e livros, é claro. Mas que o Meirelles fez um trabalho muito, muito competente, não há dúvidas.